Da semana retrasada pra cá, venho acompanhando com interesse a repercussão dos leitores do Tecnoblog às notícias que concernem a banda larga popular. Como bem sabemos, o governo quer baratear o acesso à internet de alta velocidade aos brasileiros. Mas como isto está sendo proposto é alvo de muita polêmica.
Entre os comentários dos leitores, é quase unânime a opinião de que 300 MB de limite mensal para download é muito pouco, mesmo para um projeto popular. É difícil esmiuçar quanto isso representa em termos de navegação, mas calculando por cima, essa cota permite baixar uns 2 filmes de meia hora com qualidade mediana.
Franquias para o PNBL anunciadas até o momento
Os leitores do Tecnoblog estão habituados ao consumo ávido dos mais diversos tipos de conteúdo, e não me admiro que boa parte desse pessoal trabalha, estuda, lê, se informa, se comunica e se diverte quase que exclusivamente pela web. Houve até quem atestasse que gasta 80 GB mensais de tráfego!
Contudo, estamos falando do acesso à web a milhões de brasileiros que nunca tiveram acesso nenhum até hoje. Não se trata apenas de informação e relacionamentos, mas até do exercício de sua cidadania. Além do singelo correio eletrônico, que é uma janela para o mundo, estamos falando de serviços públicos e da reinvidicação de direitos dos mais básicos. Muitas vezes, em lugares onde até os meios analógicos lhes são negados!
Para essas pessoas, e para o que se propõe o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), os 300 MB são suficientes; afinal, o que importa aqui é uma assinatura que não pese no orçamento dos brasileiros mais humildes, que calculam as despesas do mês na ponta do lápis, de moeda em moeda. E não um desbunde internético para um público sedento por diversão, algo que, além de tudo, derrubaria de vez a nossa já saturada infraestrutura.
Mas é exatamente na questão preço que a “porca torce o rabo”.
A proposta de R$ 35 por 300 MB de tráfego a 1 Mbps de velocidade continua cara. Basta algumas poucas contas para notar que isso pouco difere dos serviços já oferecidos — naturalmente, onde há estrutura e concorrência que permitam preços competitivos. Além de ser um valor que pesa no bolso de quem mais precisa, tem a questão do compromisso mensal, que por si só já espanta muita gente.
Talvez a solução já esteja diante dos nossos olhos. Não somos o país dos pré-pagos? Analisemos o recuo da telefonia fixa no Brasil, frente ao crescimento exponencial da telefonia móvel. Mesmo pagando muito mais pelo minuto de uma chamada, as pessoas rejeitam o compromisso mensal. O que elas desejam é a conveniência: pagar quando querem e quando podem.
Na banda larga móvel pré-paga há planos interessantes, a 33 centavos ao dia, sem precisar de computador: por R$ 9,90 descontados nos créditos, o cidadão pode navegar 40 MB ao mês, a 1 Mbps, em seu celular. Estourando a cota, apenas abaixa-se a velocidade. Ou então, aos internautas ocasionais, pode-se pagar apenas 50 centavos caso deseje usar a internet apenas nas próximas 24 horas.
Adaptar o modelo da internet móvel à banda larga popular poderia sim promover a inclusão digital de milhões de brasileiros. Em vez de uma assinatura mensal, a aquisição de créditos em minutos, com a mesma fórmula do limite mensal de tráfego e de velocidade. Também pode-se dar a opção de compra de créditos, igualmente a preços populares, para quem não tem computador: as operadoras instalariam suas próprias lanhouses — outro fenômeno tupiniquim —, que funcionariam da mesma forma que as agências telefônicas já existentes em cidades do interior.
O PNBL se transformaria numa espécie de “orelhão” da banda larga.
Como não sou engenheira ou especialista em infraestrutura, gostaria de ouvir a opinião dos tecnoleitores sobre o tema. O que vocês propõem para que tenhamos um projeto de banda larga verdadeiramente popular?
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