“Vendas solucionam tudo”, já dizia o investidor Guy Kawasaki (cujo sócio na Garage Tech Ventures, Bill Reichert, falou para um público paulistano esta semana – assita). Significa que passar tudo para o departamento de vendas, pois a responsabilidade e a responsividade estão com eles? Não acho que seja isso, afinal ele falou sobre startups, não de organizações departamentalizadas. Ele quis dizer que vender – ou “faturar” – corrige tudo, é a salvação. Afinal, é disso que se trata fazer negócios. Mas os desdobramentos desta observação vão além disso.
Esta semana li um post muito útil da amiga Vivianne Vilela (que atuou anos no atendimento presencial e remoto no Sebrae Nacional e recentemente passou para a Unidade de Capacitação Empreendedora). Ela descreveu capital de giro como “reserva de recursos para ser utilizada conforme as necessidades financeiras da empresa ao longo do tempo”.
E isso não significa apenas dinheiro vivo no caixa, mas outras formas de “patrimônio” (coisas que a empresa tem) e que podem ser mobilizados, movidos, mexidos mais facilmente do que outro tipos de patrimônio. “Esses recursos ficam alocados nos estoques, nas contas a receber, no caixa ou na conta corrente bancária”, ela continua.
Resumindo, o capital de giro literalmente gira, flui, é líquido, não está amarrado ou difícil de ser convertido em valor corrente. É ele quem faz o “fluxo de caixa”. O oposto do capital de giro é, nas palavras dela, “investimento fixo, que servirá para a aquisição das máquinas, móveis, prédio, ferramentas, enfim, para investir em itens do ativo imobilizado”. Entendeu? Tem mais.
Algumas observações no artigo de Vivianne:
- quanto maior a necessidade de investimento nos estoques, mais recursos financeiros a empresa deverá ter;
- quanto mais prazo você oferece ao cliente ou quanto maior for a parcela de vendas a prazo no seu faturamento, mais recursos financeiros a empresa deverá ter;
- é nas contas correntes bancárias e no caixa que fica concentrada a parcela dos recursos financeiros disponíveis da empresa, ou seja, aquela que a empresa pode utilizar a qualquer tempo para honrar os seus compromissos diversos;
- dependendo do saldo inicial, das entradas e das saídas, pode ocorrer uma falta ou uma sobra desses recursos em um momento específico, dia ou semana;
- as decisões de compras e vendas não podem ser tomadas sem nenhum critério;
- se for tomada uma decisão de compra em excesso, a empresa deverá ter uma quantidade maior de recursos financeiros. Se for tomada uma decisão de dar mais tempo para os clientes nas vendas a prazo, a empresa também precisará de mais recursos financeiros. Se esse recurso não existe, a empresa acabará tendo de utilizar recursos emprestados de bancos, de fornecedores ou de outras fontes, o que irá gerar uma necessidade de pagamentos de juros, diminuindo a margem de lucro do negócio.
Metáfora: em usinas hidrelétricas, barragens fluviais contêm a água que, ao correrem com pressão, giram dínamos que produzem corrente elétrica. "Quem guarda, tem. E gera mais".
Viu só? Há de se prestar atenção ao fazer um Plano de Negócio e tomar investimento. Especialmente, cuidado para não sangrar a empresa, botando nos bolsos dos sócios toda grana disponível. Lição: se você tem dinheiro, pague as dívidas, peça desconto, invista um tanto, guarde um tanto para emergências.
Certa vez, ouvi sobre um modelo de terços: use 1/3 do que faturar para pagar as contas, invista 1/3 de volta naquilo que está te dando dinheiro e guarde 1/3. Claro que é só uma referência abstrata que nem sempre dá pra seguir, mas é fácil de lembrar que temos vários aspectos a cuidar.
Tem muito mais lá no post dela. Vai lá ver. Se precisar conferir melhor seu fluxo de caixa, dá uma olhada no comentário feito pelo Antonio Carlos de Matos.