Todos nós precisamos lavar as mãos, às vezes literalmente – e agora, cientistas aprenderam como nosso sistema de limpeza neurológico funciona. A descoberta, de acordo com a edição de agosto da Science Translational Medicine, pode levar os cientistas a compreenderem o desenvolvimento e até a cura para doenças como o Alzheimer.
Todos os órgãos produzem resíduos, e o cérebro não é uma exceção. Mas, diferente do resto do nosso corpo, ele não tem um sistema linfático, nenhuma válvula de escape para aquilo que não serve mais. Agora, um novo estudo em cérebros de ratos sugere como esta limpeza acontece: bombeando os fluídos através dos vasos sanguíneos. “Se você olhar para um mapa do sistema linfático, verá um grande vazio na região cerebral”, diz o neurocientista Jeffrey Iliff, do Centro Médico da Universidade de Rochester. Ele e seus colegas desvendaram este quebra-cabeças, buscando entender o funcionamento do cérebro para esta função.
Por muito tempo, os cientistas suspeitavam que o cérebro despejava seus resíduos no fluído cerebrospinal, líquido que protege o órgão dentro de nossos crânios. Nos anos 1980, alguns pesquisadores sugeriram que o cérebro deveria expelir estes fluídos para se manter limpo. Outros cientistas não ficaram convencidos. Graças às novas técnicas e equipamentos de imagem, foi possível observar o processo acontecendo no cérebro de um rato vivo. Os vasos sanguíneos servem então como um sistema de encanamentos, drenando o fluído cerebral.
O grupo de Iliff percebeu ainda que os ratos com deficiência nestes canais não dispensavam a proteína amiloide, cujo acúmulo está ligado ao Mal de Alzheimer. Cérebros saudáveis também produzem amiloides, mas esta proteína é dispensada pelo sistema de limpeza. Em um cérebro com Alzheimer, a produção é sempre contínua, mas não há o despejo, e as proteínas formam uma espécie de placa que pode prejudicar o órgão.
Teoricamente, você pode prevenir ou diminuir o desenvolvimento da doença através de um sistema de limpeza cerebral. “A chave está em descobrir como fazer isso”, afirma Iliff. A solução deste problema poderá servir também para outras doenças cerebrais, como AVC e Parkinson.
Mais pesquisas serão necessárias para que os cientistas possam entender completamente como o sistema de limpeza de resíduos funciona no cérebro, mas o neurologista Bruce Ransom, da Universidade de Washington, diz que este é um avanço considerável. “Após décadas de incertezas sobre o fluído cerebral, nós finalmente sabemos para onde está indo todo o resíduo”.
Citation: “A Paravascular Pathway Facilitates CSF Flow Through the Brain Parenchyma and the Clearance of Interstitial Solutes, Including Amyloid β.” By Jeffrey J. Iliff, Minghuan Wang, Yonghong Liao, Benjamin A. Plogg, Weiguo Peng, Georg A. Gundersen, Helene Benveniste, G. Edward Vates, Rashid Deane, Steven A. Goldman, Erlend A. Nagelhus, Maiken Nedergaard. Science Translational Medicine, Vol. 4 Issue 147, August 15, 2012.
Adaptado de texto de Tanya Lewis, originalmente publicado na Wired.