Por Raquel Rezende
A história de superação da Borrachas Decabor, indústria fabricante de câmaras de ar para pneus de motocicleta, sediada em Jaraguá do Sul, mostra bem o quanto uma empresa precisa fazer para se manter competitiva no mercado. Para chegar à produção de 130 mil peças/mês, um portfólio que inclui clientes de todas as regiões do País e um número de funcionários de aproximadamente 120, a empresa precisou transformar-se radicalmente ao longo dos anos. E revestir-se de dedicação e paciência para ver investimentos em conhecimento e tecnologia materializarem-se, compensando as perdas provocadas pela concorrência predatória da China. A Decabor só sobreviveu porque soube identificar as ameaças que surgiram e fazer dos momentos de crise oportunidades de novos negócios.
O proprietário Arselino Zanella, 55 anos de idade e há 30 no ramo, conta que a empresa surgiu no segmento de recauchutagem de pneus, por iniciativa de seu pai. O negócio começou a prosperar quando decidiram aproveitar as aparas de borracha “crua” que se destinava à sucata. Começaram criando um pequeno molde para fazer batentes de borracha para carroçarias de caminhões-baú. Com a boa aceitação, partiram para a confecção de outras peças com o mesmo material. Depois de certo tempo, as sobras de borracha já não eram suficientes. A empresa, então, decidiu que a solução seria utilizar um outro composto. “Para obter os melhores resultados, fui para Porto Alegre fazer um curso técnico de formulações de borracha. Tive aulas todas as quintas, sextas e sábados, durante quatro meses, e, depois, assistia a uma palestra por mês, durante dois anos, em Porto Alegre e em São Paulo. O esforço na aquisição desse conhecimento compensou”, diz Zanella.
A empresa cresceu e encontrou um novo nicho de atuação quando Zanella percebeu que os sistemas de freio das bicicletas usavam pastilhas em borracha. Criaram moldes para a confecção dessas sapatas, e as ofereceram a grandes indústrias do ramo como a Caloi e a Monark. Foi um trabalho de convencimento que demandou dois anos até que a Decabor se convertesse em fornecedora permanente daquelas indústrias. Por vários anos a empresa operou sem maiores obstáculos, fornecendo material para as grandes nacionais do setor e diversas empresas menores do estado. Tudo ia bem até que a China começou a inundar o mercado nacional com um sem-número de artigos comercializados a baixos preços. A Caloi e a Monark decidiram importar os sistemas de freio inteiros da China, dispensando os serviços da Decabor. A empresa de Jaraguá não se deu por vencida. Analisou suas chances e concluiu que a melhor delas seria capacitar-se para produzir o que os fabricantes de bicicletas brasileiros ainda estavam precisando: câmaras de ar para os pneus. “Foram anos de muita luta, muito estudo, porque não tínhamos conhecimento aprofundado sobre a fabricação desses produtos. Mas conseguimos entrar no mercado e, mais, abocanhamos uma boa fatia dele, chegando a produzir 500 mil câmaras por mês”, lembra Zanella.
A boa fase, entretanto, não durou mais que alguns anos. A queda de braço com os preços chineses, cada vez mais atraentes em relação aos produtos nacionais, era inglória. A saída, mais uma vez, foi encontrar um novo nicho de mercado: a produção de câmaras de ar para pneus de carrinhos de mão. Mais investimentos em conhecimento e processos de produção, e mais despesas com aquisição de máquinas. O que já era difícil tornou-se inviável quando um dos concorrentes passou a exigir dos clientes a compra simultânea de pneus e câmaras de ar. A Decabor viu-se forçada a aprender mais, para produzir também ela os pneus. Superou as dificuldades da concorrência nacional, mantendo-se no mercado com a dobradinha pneus/câmaras. Mas não demorou para que também aí a concorrência chinesa se instalasse como erva daninha.
Diante da situação, a direção da Decabor decidiu fazer uma análise de mercado para encontrar um filão onde não viesse a sofrer com a concorrência chinesa. A estratégia foi a de colocar a briga por melhores preços finais em segundo plano, já que seria impossível superar os asiáticos neste quesito. Priorizou-se a qualidade e o estabelecimento de parcerias com empresas que tivessem na segurança e confiabilidade seus maiores interesses. A Decabor, então, capacitou-se para a produção de câmaras de ar para pneus de motocicletas. Desenvolveu seus próprios processos, podendo hoje oferecer seus produtos a preços competitivos em relação a outros produtores brasileiros.
Zanella explica que uma empresa às vezes é obrigada a trabalhar com o faturamento abaixo do ponto de equilíbrio por um tempo razoavelmente longo, em razão dos investimentos realizados e dos custos decorrentes da aquisição de novos sistemas de produção e de qualificação da mão de obra. Mas este é, em regra geral, o único meio de uma empresa manter-se competitiva, assegurando sua sobrevivência no longo prazo. Para evitar novas surpresas, a empresa procura planejar com meticulosidade suas ações. “Investimos em aquisição de máquinas e equipamentos para elevar a produtividade, pesquisamos novos produtos, procuramos aumentar o número de clientes. Estamos agora nos preparando para a produção da linha de pneus para motocicletas.”
Ficar atento às mudanças do mercado, reduzir custos pela pesquisa e incorporação de tecnologias, dimensionar com exatidão a capacidade da empresa ante a concorrência, qualificar a mão de obra, trabalhar com foco em mais de um segmento e fazer cálculos precisos para o início de qualquer novo empreendimento são ações que se impõem a uma empresa que deseje prosperar, segundo afirma Arselino Zanella. Muito trabalho, persistência e um bom ambiente de trabalho são igualmente fundamentais.