Jovens contam como inventaram suas empresas, que hoje estão começando a escrever a história do empreendedorismo no Brasil
As histórias de Mark Zuckerberg, o estudante de Harvard que criou o Facebook, e de Sergei Brin e Larry Page, do Google, são inspiradoras. Quem não quer ter uma ideia e enriquecer com ela? Aqui no Brasil, a indústria de investimentos em empreendedores ainda é pequena, mas está crescendo. Buscapé e Peixe Urbano são exemplos. Descomplica, Navegg, Ippon e Softa e tantos outros nomes ainda são desconhecidos, mas já têm histórias para encorajar outros jovens brasileiros.
Marco Fisbhen era professor de física e tinha 28 anos quando pensou em criar a Descomplica. Formado em engenharia, ele dava aulas em um cursinho no Rio de Janeiro e decidiu gravá-las. Comprou uma filmadora e começou a fazer vídeos do conteúdo que ensinava. “Na véspera das provas, a demanda era grande entre meus alunos.” Ali ele viu um mercado, e resolveu transformar a ideia em uma empresa.
Conseguiu investimento em uma competição entre empreendedores. A Descomplica foi uma das finalistas do Desafio Brasil 2009, organizado pelo Centro de Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da Fundação Getúlio Vargas (GVcepe). Ele não saiu de lá com o prêmio principal, de R$ 65 mil – sendo R$ 5 mil em dinheiro, R$ 30 mil em assessoria jurídica por um ano e R$ 30 mil em consultoria de planejamento estratégico e de marketing. Mas, quatro meses depois, tinha em suas mãos R$ 300 mil do Gávea Angels, empresa que reúne os chamados “anjos”, que são pessoas físicas que aplicam seus recursos próprios nas ideias dos jovens empreendedores.
“Usamos o dinheiro que recebemos basicamente em produção e construção da estratégia de marketing para o lançamento da empresa.” Hoje, com dois anos, a Descomplica tem 13 funcionários e consegue se sustentar com seu próprio caixa. “Temos mais de mil vídeos, com todo o conteúdo do ensino médio, gravado por cerca de 30 professores”. Para ter acesso, os estudantes pagam uma mensalidade.
Eles sabem o que você quer
No mesmo desafio, estavam os jovens Pedro Cruz e Luciano Juvinski, ambos de Curitiba e de 29 anos. Eles participavam da competição com a Navegg. A ideia da empresa é tornar a internet inteligente. O suficiente para que portais, sites de compra, jornais e outras companhias online ganhem dinheiro oferecendo exatamente aquilo que a pessoa que está do outro lado da tela quer. “É um sistema que identifica o perfil do internauta, seus interesses e intenções de compra a partir do histórico de sua navegação”, diz Cruz.
A partir desse mapeamento, as empresas podem tornar mais eficiente a publicidade que fazem na internet. “Com a ferramenta, elas podem customizar as páginas para cada internauta e, assim, rentabilizar melhor sua audiência”.
Na foto: Pedro Cruz e Luciano Juvinski criaram uma ferramenta que customiza sites de acordo com o visitante
Com a ideia estruturada, começaram a buscar investidores. A primeira tacada foi enviar e-mails para 200 fundos norte-americanos, pedindo recomendações e, claro, dinheiro. Mas a tentativa não deu certo. “Só 20 responderam, sendo que metade deles apenas por educação. Tentamos avançar com os outros dez, mas a distância atrapalhou.”
Três meses depois, inscreveram a Navegg no desafio. Assim como Fisbhen, eles não ficaram em primeiro lugar, mas foi em uma das etapas da competição que conheceram a Astella Investimentos, que alavancou o negócio.
O desafio foi o ambiente de encontro entre os jovens e os seus respectivos investidores, mas não só isso. Foi na competição que eles conseguiram aprimorar seus projetos. “Além de serem uma vitrine para investidores, são a oportunidade de receber um retorno gratuito de profissionais com bastante experiência”, diz Cruz. Segundo ele, durante as etapas de aconselhamento com investidores e executivos, perceberam a importância da aplicação comercial da Navegg. “Até então, essa questão não estava 100% clara para nós.”
Maria Alice Maia, estudante de administração da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, está conversando com investidores interessados no seu projeto. “A ideia é muito boa, estamos conhecendo melhor a empresa”, diz Emerson Duran, diretor da gestora de fundos Confrapar. Maria Alice criou o Ippon, um serviço de vendas relâmpago, pela internet, para companhias de turismo e entretenimento. Com a ideia, ela foi vencedora o Prêmio Santander de Empreendedorismo e ganhou R$ 50 mil, em 2010. Agora, a jovem e seu sócio, Lucas Cancelier, esperam o capital para dar sequencia ao projeto.
Catarse: projeto de jovens de Porto Alegre e São Paulo, de investimento colaborativo, busca investimentos
Paixão e luta
Os jovens estudantes Pedro Axelrud, de 20 anos, e Daniel Weinmann, de 28, de Porto Alegre, são exemplos de batalhadores em busca de recursos. “Estamos interessados em conversar com investidores com visão similar à nossa, que queiram nos ajudar a acelerar o crescimento dos nossos produtos”. Com três sócios, eles fundaram a Softa, uma empresa de soluções para internet.
Uma das ideias deles – já no ar – é a Catarse, que criaram em parceria com os estudantes de São Paulo Diego Reeberg, de 23 anos, e o Luis Otávio Ribeiro, de 22. “É um site de ‘crowdfunding´ [investimento colaborativo]. É um ambiente em que umas pessoas colocam suas ideias, e os interessados em ajudar fazem suas doações. Em troca, recebem recompensa”, diz Axelrud. Outro produto dos rapazes é o Mailee.me, uma ferramenta que permite que empresas customizem o e-mail marketing por meio de forma simples.
Para seguir na batalha, é preciso persistência, diz Axelrud. Para jovens que ainda estão começando, ele sugere paixão e trabalho. “Estudem bastante, saibam realmente aonde vocês estão pisando e sejam sérios. Façam aquilo que mais gostam no mundo. Quando realmente acreditarem nas suas ideias, não desistam e saibam que os obstáculos serão muitos.”