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Cerâmica reduz uso de madeira na produção e aumenta lucro


Brasília – Criada há mais de seis anos no município de Acari, no sertão do Rio Grande do Norte, hoje a pequena Cerâmica Acari contabiliza aumento em 30% nos lucros e uma economia de R$ 5 mil mensais na compra de madeira. O negócio também é exemplo para empresários do setor sobre uso de processos ambientalmente corretos e até já desperta o interesse de compradores de crédito de carbono.

Segundo o dono da empresa, José Reginaldo Dantas, os resultados foram conquistados com mudanças estratégicas. Uma delas foi o tipo de forno usado na queima de telhas e tijolos, que passou do caipira, com amplas aberturas frontais, para o modelo chamado abóboda, que é mais fechado e de forma arredondada, permitindo melhor aproveitamento do calor e aumento da qualidade de produção. “Antes, a gente tirava 35% de produto de primeira linha. Agora, tiramos até mais de 80%, o que melhorou as vendas”, afirma. 

Entre os avanços, Reginaldo relaciona o uso de tecnologias simples como estufas para secagem de telhas e tijolos. Ele também passou a usar tubulações que permitem aproveitar o calor de um forno para esquentar outro e ajudá-lo a entrar em operação. “Isso reduziu em dez horas o tempo de aquecimento dos fornos e em até 12% o uso de madeira para a queima”, afirma o empresário que também mudou o tipo de madeira utilizada – antes, boa parte era nativa; hoje, é oriunda de manejo florestal, aliada a materiais alternativos, como restos de poda de cajueiros e cascas de coco.

“Saímos da ilegalidade, não é mais preciso trabalhar escondido”, comemora o empresário. Ele explica que as mudanças trouxeram várias vantagens, além da econômica, porque agora ele trabalha sem medo de fiscalização e está com a consciência tranquila por não prejudicar o meio ambiente. Ele conta que reduziu tanto as queimas e emissão de fumaça – que libera o dióxido de carbono (CO²), um dos principais responsáveis pelo efeito estufa – que uma empresa se interessou em comprar créditos de carbono gerados pela cerâmica. “Não vendi porque achei o preço baixo e ainda estou consolidando as mudanças”.

No município de Parelhas, também no Rio Grande do Norte, a empresária Marlene Azevedo, da Cerâmica Dois Irmãos, também realiza alterações no processo produtivo. Ela reduziu o uso de lenha e já agregou nas fornalhas os resíduos de madeira de serrarias, chamados de briquetes. “Parelhas está em processo de desertificação. É preciso evitar o desmatamento e a degradação do solo”.

Projeto

As cerâmicas Acari e Dois Irmãos estão entre os 90 pequenos negócios do setor que participam do projeto Eficiência Energética em Cerâmicas de Pequeno Porte na América Latina para Mitigar a Mudança Climática (EELA). O trabalho é desenvolvido na região do Seridó, entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba, em uma parceria entre a Agência Suíça de Cooperação e Desenvolvimento (Cosude), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INT) e o Sebrae.

O objetivo do projeto, que começou em julho de 2010, é incentivar o uso de tecnologias que permitem maior eficiência energética nas pequenas cerâmicas e a redução dos impactos ambientais, incluindo emissão de dióxido de carbono. A iniciativa foi integrada às ações já desenvolvidas pelo Sebrae no Arranjo Produtivo Local (APL) de cerâmica vermelha do Seridó e que visam  um processo produtivo econômico e ambientalmente sustentável.

“As cerâmicas do Seridó foram escolhidas para receber o EELA porque estão entre as que utilizam baixa mecanização e poucas soluções tecnológicas”, explica a gestora da carteira de construção civil do Sebrae, Helena Greco. Segundo o coordenador do projeto pelo INT, Joaquim Augusto Rodrigues, estudos comparativos preliminares atestam as vantagens das alternativas que  permitem maior eficiência energética nas olarias. 

“Há uma redução de 30% no consumo de lenha e pode-se obter até 90% de aumento da qualidade de telhas e tijolos”, exemplifica Augusto. Segundo ele, o projeto também é desenvolvido na Bolívia, Peru, Argentina, Equador, Colômbia e México. “A ideia é definir um modelo de produção que reduza a emissão de carbono pelas olarias nos países envolvidos”, explicou.

Serviço:
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