A imagem que temos de países desenvolvidos é quase sempre idealizada. Quando pensamos na Inglaterra e nos Estados Unidos, por exemplo, só temos coisas boas em mente, como se esses países não enfrentassem problemas sérios e não tivessem uma parcela da população pouco afeita aos bons modos, à higiene e à inteligência.
Sim, senhoritas e cavalheiros, ingleses e americanos sofrem com suas próprias vicissitudes, mas há uma distinção fundamental: eles convertem as suas virtudes e herança histórica em senso comum, num padrão a ser valorizado e respeitado pela sociedade como influência positiva, e ainda conseguem projetá-los internacionalmente como identidade nacional; nós, brasileiros, alçamos os nossos vícios, aquilo que temos de pior, a um padrão geral de conduta, a uma regra desviada que fundamenta a nossa cultura e o nosso senso comum, além de repudiarmos e ridicularizarmos a nossa história. É este conjunto desonroso que celebramos nacionalmente e notabilizamos internacionalmente.
Puxem pela memória. Quando você pensa num inglês, o que vem à cabeça: um lorde ou um operário careca e rude bebendo num pub? Quando você pensa num americano, o que vem à cabeça: um vencedor do prêmio Nobel ou um pobre da periferia? Quando você pensa num brasileiro, o que vem à cabeça: um grande empresário ou um malandro sempre pronto a dar um golpe?
Não sei como é possível construir um país melhor se nós, brasileiros, achamos o Brasil uma grande porcaria e alimentamos um orgulho inexplicável em nos identificarmos como os piores na comparação com outros países. O Brasil é uma grande janela quebrada que ajudamos diariamente a destruir.
Nutrimos um exclusivismo da desgraça que nos paralisa. Se somos inferiores, se nada aqui é bom, por qual razão empreender esforços para melhorar? Nosso vitimismo tornou-se um historicismo fatal: somos e sempre seremos os piores. Mais: queremos ser os piores – mesmo que os piores sejam sempre os outros, os “brasileiros”.
Essa atitude perante os outros e diante da vida conforta quem nada pretende fazer e rebaixa quem pretende ou tenta fazer. A qualidade média do que construímos é, por isso, inferior ao que poderia ser. Aqueles que tentam são, de alguma maneira, prejudicados por aqueles que preferem não tentar.
Se a ausência de vontade e a aceitação passiva e fatalista do que é medíocre passam a ser o senso comum, a nossa cultura refletirá os distintos graus de mediocridade. Tal ambiente desestimula a superação das adversidades e premia a banalidade. Com o tempo, sequer temos capacidade de reconhecer o melhor do pior, o bom do ruim, o Bem do Mal.
O que fazer?
Dar o melhor de si e exigir o melhor dos outros. É árduo, doloroso, incerto e desconfortável. Porém, antes de pensar em construir um país melhor, devemos ser melhores.
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Artigo de Bruno Garschagen no Extra