A corrida para construir o prédio mais alto do mundo cresceu muito nos últimos anos. Como os alpinistas na década de 1930, ou os astronautas nos anos 1960, construtores lutam para superar uns aos outros e também se esforçam para conseguir algo mais profundo – algo que gere um orgulho nacional (ou talvez econômico). Mas o plano chinês para construir o maior prédio do mundo em alguns meses pode levar a corrida arquitetônica para outro caminho.
Até certo ponto, a competição amigável existe desde que a fundação permitiu a partir do fim do século XIX a construção de prédios mais altos do que alguns andares. Mas em uma época em que “alto” significa super-alto (ou mega-alto), as coisas começam a ficar mais interessantes, especialmente do ponto de vista da logística. Demorou seis anos par ao Burj Khalifa, com 829 metros de altura, ser construído, e ele é o atual campeão em altura. Demorou oito anos para o segundo mais alto, o Abraj Al Bait, e sete para o One World Trade. A construção desses arranha-céus são lentas e ineficientes – e insustentáveis economicamente.
Mas na China, uma empresa chamada Broad Sustainable Building Corporation – liderada por um excêntrico CEO chamado Zhang Yue – afirma ter resolvido o problema usando peças pré-fabricadas. Você deve se lembrar de Broad da impressionante demonstração de 2012 quando a empresa construiu um prédio de 30 andares em apenas 15 dias. “A construção tradicional é caótica”, explicou Yue em um fascinante perfil na Wired publicado no ano passado. “Nós pegamos a construção e levamos para a fábrica.”
Ano passado, a Broad anunciou planos para construir o prédio mais alto do mundo, o Sky City One, em apenas três meses (sete, se você considerar o trabalho de montagem em fábricas). Usando 100& de peças pré-fabricadas, segundo afirmação da empresa, o prédio seria levantado em uma taxa de cinco andares por dia. E, na semana passada, a Broad reforçou a sua afirmação, lançando uma nova renderização e anunciando que a construção está para começar. Na verdade, como o gerente geral da Broad nos Estados Unidos Sunny Wang me disse pelo telefone, a construção será iniciada dentro de alguns meses. “Ainda está na fase de conseguir a permissão de construção”, ele disse. “Esperamos começar em setembro.”
Sky City vai ter 150 andares a mais do que os maiores prédios pré-fabricados do mundo. Isso porque construções pré-fabricadas não são muito boas em lidar com força lateral (ou aquele movimento de lado a lado), como o vento. Torres pré-fabricadas são normalmente feitas de pilhas de módulos de aço. Isso é ótimo para cargas verticais, mas quando o vento sopra, há pouca estrutura para impedir que a coisa caia. Qualquer pessoa familiarizada com as leis da física estaria cética dos planos da Broad – e especialistas também estão. “Quando olho para os desenhos do edifício Sky City One, não consigo ver nenhuma provisão para elementos estruturais”, dis Bart Leclercq, chefe de design de estruturas da WSP Middle East.
O maior prédio pré-fabricado da América do Norte, a B2 Tower, que vai ser erguida em Nova York neste ano, vai atingir apenas 30 andares. Curiosa para saber o que os especialistas por trás do projeto tinham a falar sobre a proposta do Sky City, fui atrás de Tony Colonna, vice-presidente de operações de pré-fabricação da Skanska, a empresa por trás do B2. “O que é fundamentalmente diferente sobre o B2 é que desenvolvemos o módulo estrutural primeiro”, ele disse. “Frequentemente o que nós vemos é um arquiteto projetar um prédio onde o pré-fabricado vem depois, e o que você deve fazer é pegar um design arquitetônico tradicional e tentar quebrá-lo e modularizá-lo.” Em vez disso, com o B2, a Skanska e a empresa de engenharia estrutural Arup desenvolveram uma “espinha” de aço que estabiliza os blocos modulares individuais. Quando perguntei a ele sobre a Broad, ele estava otimista com cautela, adicionando que “o desafio de crescer verticalmente é uma questão de design.”
Vamos deixar a descrença de lado por um segundo e pensar – como Colonna sugeriu – que atingir 220 andares em dois meses é apenas uma questão de planejamento. Eis como isso vai acontecer. A Broad pré-fabrica os módulos em uma fábrica, incluindo tudo desde canalização até azulejos. Estes blocos parecidos com Lego, com cerca de 15 metros por 3.6 metros, são embalados junto com as caixas de hardware necessários para protegê-los, incluindo suportes verticais, que são a grande inovação da Broad: colunas de aço que brotam em “pernas” diagonais em cada extremidade. Esses pacotes de estrutura e chão são levantados por um guindaste no local, onde trabalhadores prendem a uma velocidade alucinante. Será o suficiente para suportar ventos e terremotos a mais de 830 metros acima da Terra? “Do ponto de vista técnico, é totalmente seguro, e foi aprovado pela equipe técnica”, diz Wang.
Imagem via Wired
Mesmo se o Sky City nunca superar 30 andares, pode não importar muito. A única coisa radical no plano da Broad está na logística. Zhang Yue descreveu suas missões em sustentabilidade – uma jornada para fazer a construção desperdiçar menos – e é difícil argumentar que ele não está atrás disso. A empresa estima que um prédio desse tamanho pré-fabricado vai gerar 100 vezes menos lixo do que uma construção tradicional. Como Wang me explicou, também tem uma lógica urbana na ideia. “Colocar toda uma cidade em um arranha-céus economiza muita energia”, ele diz, adicionando que a Broad pretende levar o método para outros países além da China. “Não é difícil entender, e é fácil de copiar. Eu acho que este é o modelo para o futuro dos prédios.”
É fácil descartar a Sky City com base nos seus precedentes, mas é difícil não se encantar com o plano audacioso. E além de tudo, as pessoas não diziam a mesma coisa em 1880, quando as primeiras estruturas de aço com dez andares subiram assustadoramente na paisagem urbana vitoriana? Em relação à estrutura, apenas o tempo dirá. “No momento, não está claro para mim como eles planejam fazer isso funcionar, mas estou muito interessado em descobrir”, disse Leclercq após discutir os planos. “Nunca estamos velhos demais para aprender.”