Não faz muito tempo. Na verdade, foi uma geração anterior: para nossos pais, o caminho para o sucesso profissional era bastante simples e você provavelmente conhece a fórmula:
1. Estude bastante na escola e tire boas notas
2. Seja aprovado para a universidade
3. Com o diploma em mãos, escolha um dos empregos que lhe forem oferecidos
4. Seja pontual, seja honesto, trabalhe duro
5. Seja promovido internamente e se aposente
Tudo era mais simples. A diferença de qualidade entre o ensino público e o privado era mínima e haviam poucas opções de universidades, de modo que o diploma universitário sempre era garantia de um diferencial de mercado. A carreira era realizada dentro de uma empresa.
É fascinante como a nossa sociedade muda tão rápido. Mais rápido que nossa capacidade cognitiva em entender o que está acontecendo. Foi o escritor futurista William Gibson quem disse: “O futuro já chegou. Ele só não está distribuído uniformemente ainda”.
No Brasil, essa frase representa uma grande verdade: alguns jovens já seguem o estereótipo da Geração Y e se rebelam diante da autoridade hierárquica corporativa, buscando o empreendedorismo como forma de manifestação de sua arte. E ao mesmo tempo, existem também aqueles que ainda buscam algo completamente diferente: a estabilidade característica da geração passada.
Assim, apesar de muito bonito visualmente, o vídeo acima sobre as gerações X e Y comete dois terríveis e inevitáveis erros: a generalização e a rotulagem.
Ao invés de dizer que tal ou qual geração se comporta de diferentes formas, me parece mais adequado falarmos em diferentes ideais, independente de geração.
Pois não é um absurdo dizer que no mesmo lar podemos encontrar dois irmãos gêmeos com essa visão diametralmente oposta. Pedrinho buscando de forma inquieta o empreendedorismo muitas vezes controverso ao estilo Zuckerberg e Zézinho se esforçando para alcançar a estabilidade e segurança através de uma carreira baseada nos ideais da geração passada. Ambos vivendo debaixo do mesmo telhado, com mesma influência familiar, tendo estudado nas mesmas escolas.
E se por um lado a mera vontade de se manter distante de uma estrutura hierárquica e “não ter chefe” não será suficiente para o jovem aspirante a empreendedor, é igualmente válido dizer que somente a busca pelo ideal da estabilidade não traz qualquer garantia para o jovem que deseja desenvolver sua carreira.
Apenas estudar e tirar boas notas não é mais garantia de empregabilidade. Apenas ser pontual, honesto e vestir a camisa da empresa também não é fórmula contra a demissão. No momento em que a tecnologia permite automatizar sistemas ou contratar trabalhadores em outras cidades (ou outros países) a um preço menor, todos os que forem facilmente substituíveis estão vulneráveis.
Diante desse cenário, será que o conceito de “estabilidade” ainda faz sentido?
A estabilidade, hoje, é cada vez mais a capacidade de aprendizado por conta própria, de contínuo crescimento e de formação de relacionamentos valiosos. O profissional estável é aquele que tem a capacidade de rapidamente se recolocar, de antever crises dentro da empresa e negociar novas oportunidades em uma melhor empresa, que valorize sua capacidade criativa e única para solução de problemas que não podem ser resolvidos por máquinas ou por profissionais terceirizados a um baixo salário.
A nova estabilidade é o espírito empreendedor. O empreendedor é aquele que, mesmo sem o desejo de montar sua empresa própria, tem a vontade de sempre melhorar, questionar processos ineficientes, inovar. O funcionário de espírito empreendedor certamente colhe o efeito colateral da estabilidade ao longo de sua carreira.
A grande ironia é que o empreendedor pouco se importa com estabilidade, pois ele está ocupado criando e gerando valor. Criando instabilidades estáveis todos os dias.