Em outubro, o Whisper – app para compartilhar segredos anônimos – foi acusado de rastrear seus usuários em uma reportagem brutal do Guardian. Agora, meses depois, o jornal está recuando em muitas de suas acusações contra o app.
O texto original acusava o Whisper of identificar o local exato dos usuários, mesmo se eles desligassem isso nas configurações do app, entre outras infrações de privacidade.
Isso manchou a imagem do Whisper, porque ele prometia ser “o lugar mais seguro na internet” – perseguir os usuários não se encaixa nessa missão.
As consequências foram graves: uma lucrativa parceria com o BuzzFeed foi cancelada; a empresa teve que prestar esclarecimentos ao Senado americano; e a equipe editorial do Whisper foi suspensa do cargo – incluindo o editor-chefe Neetzan Zimmerman, após defender a empresa no Twitter. “O Guardian cometeu um erro ao publicar essa história, e eles vão se arrepender”, disse Zimmerman.
Bem, agora parece que essa defesa tinha fundamento. O Guardian removeu sua acusação mais contundente, de que o Whisper estava rastreando a localização dos usuários e se comportando de maneiras que ameaçavam o anonimato:
Nós relatamos que endereços IP só podem fornecer uma indicação aproximada do local de uma pessoa, geralmente não mais precisa do que o seu país, estado ou cidade. Estamos felizes em esclarecer que estes dados (que todas as empresas de internet recebem) são um indicador muito bruto e pouco confiável de localização.
Nós também estamos felizes em deixar claro que:
- o público não pode verificar a identidade ou localização de um usuário do Whisper, a menos que o usuário divulgue publicamente essas informações,
- a informação do Whisper compartilhada com o Escritório de Prevenção de Suicídios, do Departamento de Defesa dos EUA, não inclui dados pessoais;
- o Whisper não armazena dados fora dos EUA.
Os termos do Whisper para compartilhar informações de forma proativa com as autoridades policiais, onde houver perigo de morte ou lesão grave, é um padrão da indústria permitido por lei.
Michael Heyward, CEO do Whisper, disse no início do ano: “realizamos uma análise interna que não encontrou nenhuma irregularidade”. Mesmo assim, Zimmerman não trabalha mais na empresa, assim como outros funcionários da equipe editorial. Eles estão irritados com o erro do Guardian e a demora em reconhecê-lo:
Heck if it weren’t for The Guardian’s reporting, I wouldn’t be out fishing, going to the beach rn, and, well, standing in unemployment line.
— Joshua Chavers (@JoshuaChavers) March 11, 2015
“Se não fosse pela reportagem do Guardian, eu não estaria pescando, nem indo para a praia, nem na fila dos desempregados.”
Tudo isso não significa que devemos acreditar piamente nos apps que prometem anonimato e proteção à privacidade – mas o Whisper apanhou mais do que merecia.
Depois de outubro, quando foi publicada a reportagem do Guardian, o app despencou nos rankings da App Store (iOS) e Google Play (Android) nos EUA, onde ele é mais popular. [The Guardian via Wall Street Journal]