Há poucos dias, o New York Times publicou um artigo longo sobre um assunto de alta relevância. O título é “Sabotagem de férias: não deixe acontecer com você!”. Quem assina é Matt Richtel, que, segundo a biografia disponível no site do jornal, não cobre a área de turismo, mas a de tecnologia. Isso já revela a abordagem dada ao assunto, que pode ser resumida, grosso modo, a considerações sobre como é difícil desplugar neste mundo alucinante em que vivemos. Já não somos escravizados por mensagens e informações, mas pelos aparelhos em si (leia mais sobre isso no post anterior deste blog, da editora-executiva Marisa Adán Gil).
Ironias à parte, é preciso reconhecer que todo mundo sabe do que Richtel está falando quando se refere à “armadilha dos sete dias”: “dois dias de impaciência por não conseguir relaxar, dois dias de descanso verdadeiro e dois dias de ansiedade antes de voltar ao trabalho”. A julgar pelas entrevistas feitas por Richtel, o problema é mais grave do que se supõe. Até mesmo um experiente psicólogo, Jonathan Schooler, da Universidade da Califórnia, confessa que destruiu suas férias com a família na Noruega porque programou tirar um tempinho para fazer um trabalho no laptop. Resultado: nem fez o trabalho, nem conseguiu desligar.
O próprio texto é um testemunho alarmante do problema, o que torna a leitura um tanto deprimente. Richtel se sente obrigado a recorrer à neurociência para encontrar provas “tangíveis” de que o cérebro se apega à rotina e às altas expectativas como um viciado se apega à droga – a única diferença é que o workaholic depende de dopamina, e o próprio corpo faz papel de traficante.
Outros sinais reveladores do texto são as atividades das pessoas ouvidas pelo repórter, entre elas a diretora do Centro de Pesquisa em Compaixão e Altruísmo da Universidade de Stanford e o organizador da “Sabedoria 2.0”, um “movimento crescente da Bay Area [Califórnia] destinado a ajudar as pessoas a encontrar equilíbrio no mundo moderno”. Haja equilíbrio para fazer o que Richtel recomenda para o período anterior às férias: “Amarre todas as pontas soltas que puder. Mas não faça nós duplos. Seu mantra: não serão férias de uma semana, mas uma sequência de dois fins de semana prolongados de três dias mais um dia de bônus.”
Ainda mais triste é o conselho principal. Levando em conta que você pode estar deitado na praia, mas seu cérebro continua procurando o que fazer, programe atividades esportivas. Se mesmo assim não conseguir aquietar o facho, concentre-se na atividade do próprio cérebro pulando de um assunto para outro até que ele canse. Ou seja, relaxe na marra, mesmo que isso dê o maior trabalho.