Também comenta-se que quando alguém faz algo que não estava previsto, que não está no seu repertório típico, então este feito está “fora da caixa” – e, portanto, pode ser portador de inovação. O que ainda não se comenta tanto, talvez porque ainda não se repara muito nisso, é que há coisas fora da caixa acontecendo na Rocket.
Inovação em produtos
Para começar, vejo acontecer uma inovação na oferta de produtos da Zocprint, gráfica rápida online onde se pode customizar diversos tipos de ítens profissionais e escolares. Esta proposta realmente não nasceu na Rocket, mas agora o site também está oferecendo capas de celular que o cliente pode customizar e cadernos que o cliente pode customizar. “Oferecemos não apenas variedade de produtos, mas opções fáceis de execução e que facilitam o dia a dia das pessoas”, comenta Ricardo Leite, sócio fundador da Zocprint. Obviamente há muito mais tipos de produtos nas prateleiras de semi-prontos da Zocprint, não vou citar tudo, nem tudo que estão lançando.
Ok, essas coisas não são a invenção da roda, nem a invenção do ABS, mas também não é algo manjado – muito pelo contrário: era algo que estava caindo de maduro e não vejo outras empresas oferecendo. Resultados vem do aproveitamento de oportunidades, dizia o Mestre Drucker, e as vantagens competitivas sustentáveis vem quando se atende necessidades (ou vontades) mal atendidas (underserved) ou ainda não atendidas (unserved) – já diziam outras tantas pessoas, a gente está cansado de ler e ouvir isso, mas ainda insiste em certos antagonismos de “é original” versus “é copy-cat”.
Inovação em negócios
Bem mais além da oferta de produtos diferentes, fiquei impressionado com uma coisa que conheci numa conversa com o João Luiz Olivério. Depois de trabalhar com consultoria na Ernst & Young e na Accenture, foi sócio e CEO da The Best Solution Group, empresa que tinha diversos serviços digitais. Mais recentemente, foi co-fundador do WeGo, que ele defende como o primeiro site de compras coletivas focado em São Paulo. Depois foi diretor comercial de B2C do site de educação a distância eadbr, investido pela Warehouse. Isso tudo é passado para ele. Por meio de um conhecido na Rocket, levou sua ideia até os gestores e conseguiu o aval e o apoio deles para tocar o projeto. Que projeto?
O que João Luiz vem tocando, como se fosse sua obra-prima, chama-se Blue Circle. Consiste em um sistema que integra dados de diferentes e-commerce, com o potencial de levar a outro patamar o que se sabe sobre comportamento do consumidor e o tipo de oferta customizada que uma empresa (ou um conjunto delas) pode oferecer. Um dos componentes é algo que lembra um sistema de fidelidade, com pontuação dos consumidores, mas a forma como o cliente pode usufruir os pontos é inovadora, pois o sistema usa inteligência para acompanhar o que os consumidores compram (e abandonam) em diferentes sites de compras e consegue traçar um pacote de ofertas composto com itens de diferentes sites.
Obviamente, o fato de João tocar isso dentro da Rocket dá ao projeto condições que dificilmente ele encontraria de forma tão fácil no mercado, onde as empresas estão dispersas e não se tem em um mesmo prédio mais de 10 sites de compras ligados a uma estrutura central e a uma cultura de unidade. “Mas também não é tão fácil assim”, pontuou. “Tive de convencer um por um os CEOs dos sites para que eu pudesse ter acesso. Mas consegui ir demonstrando como pretendia fazer isso e quais seriam as vantagens de negócio, então já consegui a adesão de diversos deles. Talvez um dia consiga sim incluir sites que não são da Rocket, mas no momento minha operação está realmente bem enxuta e estamos ainda afinando o sistema, dando os primeiros passos”, comenta.
Até agora, a adesão de clientes desses sites que estão aderindo ao Blue Circle está na ordem de centenas de milhares. Excelente para uma empresa que iniciou no final do ano e cujo produto ainda nem está perto de sua maturidade e plenitude. Mais do que um produto diferente do que existe no mercado, o Blue Circle consiste numa nova forma de entender e atender os consumidores e, nesta lógica, abraçar diferentes sites em um modelo de negócio que também não se vê toda hora. É sim uma nova forma de fazer negócios, é um modelo de negócio inovador, é uma inovação em negócios. Ponto para o João e ponto para a Rocket.
Inovação empresarial
Imagina o potencial do Blue Circle se o João ligá-lo em toda rede da Rocket? São mais de 55 empresas espalhadas em 70 países de 6 continentes. Dá vertigem integrar tudo isso e com certeza seria uma inovação empresarial. Mas, mesmo se isso não acontecer, há coisas dando sinais de que a Rocket está mudando enquanto grupo. Não exatamente uma reinvenção, porque mesmo com tanto sangue novo aderindo à rede, o trio fundador dos Samwer ainda empresta uma personalidade à toda estrutura. Seja ou não de propósito, seja ou não verdadeira, seja ou não questionável, mas certamente o polêmico (e bem sucedido) jeitão blitzkrieg faz um efeito nos bastidores do mundo startup e nos burburinhos da imprensa especializada – mas menos efeito, e talvez nenhum, nos consumidores finais.
Quais novidades? Lembro quando fui para a Alemanha pesquisar startups em Berlim. Eu já conhecia alguns co-fundadores da Dafiti, que deve seu início à Rocket. Eu tinha sido apresentado, eu tinha contatado, e nada de uma resposta, não pude conhecer ninguém da empresa lá cidade sede. Lembro do site institucional, que mesmo tendo uma seção para contato, obviamente não funcionava e era bem mais obscuro do que hoje: estampam já na entrada o mapa mundi e demarcam seu território com as logos dos sites mais conhecidos. Já contam também com uma assessoria de imprensa proativa e empoderada (ao menos para as operações latinas, com base em São Paulo). Mas além e acima disso, paira um mito de IPO.
Ninguém na firma dá sinais de jamais ter ouvido ou percebido algo que indique um movimento da Rocket em direção a abrir ações em bolsa de valores, mas um blog publicou, alegando ter recebido informações de uma fonte inquestionável, de que é isso mesmo: a Rocket vai buscar seu IPO. E, vamos combinar: IPO já existe há tempo suficiente para não chamarmos mais de inovador, mas vimos que IPOs de empresas de Internet ficaram cada vez mais raros, então também não podemos acusar a Rocket de ser copy-cat neste quesito. Com certeza eles não são o Facebook, com um único produto, uma única plataforma. Também não são tão intangíveis pois vendem bens “sólidos”. Buscar o dinheiro do povo direto na bolsa, dispensando a compra/venda de produtos, dando em troca um pedaço da empresa, não é algo que se possa ignorar. Os caras já tem fundos próprios para caramba, faturamento para caramba, ainda estão com a faca e o queijo na mão para integrar suas bases de clientes e elevar o CRM e o marketing digital a níveis ainda não vistos, e talvez ainda se capitalizem na bolsa. Independente disso, eles vem atraindo talentos que, mesmo não sendo considerados originais e disruptivos, estão repadronizando seus mercados.
Moral da história
Coisas diferentes podem estar acontecendo em algum lugar enquanto você acha que sabe que nada de novo acontece por lá. Uma pessoa pode ter uma ideia, mas as ideologias detem as pessoas e, em recorrentes visitas à Rocket e contato com profissionais, estou desconfiando que esteja nos olho do mercado um preconceito com relação a um grande grupo de pessoas que está construindo negócios. Eu estava influenciado por isso, enviesado por insiders (incluindo o Techcrunch), mas fui atrás e o que mais acabou chamando minha atenção foi esse perfil que apresentei nesta matéria.