Faz umas semanas que rolou a notícia de um app pra odiar as coisas, chamado Hate This. Na página oficial ele ainda não foi lançado, mas promete que virá para iOS. A premissa é você poder dar um “descurtir” nas coisas, marcando lugares e itens que você não gostou. A utilidade disso? Não sei!
Tava com esse pensamento na cabeça quando me deparei com duas coisas: essa coluna genial da Elis Monteiro falando sobre a nova modinha da internet dos HATERS na internet e essa excelente análise sobre os babados infinitos envolvendo atletas olímpicos e seus tuites racistas.
Tem alguns pontos interessantes da análise do autor sobre o motivo do Twitter ser o principal meio pra tanta expressão preconceituosa, haterista e absurda:
- Esquecemos que quem vê nossas mensagens não são apenas nossos seguidores (que, teoricamente, são “fãs” que vão concordar com tudo o que falamos), os tweets estão aí pra todo mundo ler.
- Achamos que temos que emitir opinião tão rápido quanto a informação que chegou na nossa timeline. O resultado, na maioria das vezes, é um tuíte escrito sem reflexão e muitas vezes inconsequente.
- Não só pela velocidade, mas também pelo espaço limitado que o Twitter nos dá, acabamos reduzindo nossa argumentação ao nível mais básico possível… a ofensa.
- Quando você tuíta algo, aquilo que antes era um mero pensamento, devaneio ou opinião, acaba se tornando pública, objetiva e irreversível.
Lembra de quando rolou aquele vírus do botão dislike no Facebook? No afã de manifestar a raiva, as pessoas acabaram infectando suas timelines e as dos amiguinhos. Por que queremos tanto fazer esse manifesto? Por que queremos gongar, desgostar, espinafrar, ofender?
Quando você associa sua imagem a “odiar algo”, você se torna uma potencial vítima da crítica alheia. Veja todos os blogueiros e vlogueiros que se dedicam à arte do insulto e à técnica milenar da reclamação, como são alvos de haters. Ódio atrai ódio.
Haters gonna hate others haters who hate!
Uma coisa é você falar com um amigo que odeia algo, outra coisa é escrever isso. Todos temos preconceitos que escondemos, mas quando eles são manifestados por escrito, eles viram documentos contra você e, mais importante, pro objeto da sua raiva. #chatiado
E ao mesmo tempo que achamos que temos o direito de expressar essa raiva, nós não conseguimos aceitar as dos outros. Uns acham que tudo bem brincar com religião, enquanto se ofendem com quem zoa com direitos dos animais. Outros acham ok fazer piada de são-paulino viado, mas não aceitam que chamem corinthiano de ladrão. E por aí vai… a medida do que é aceitável ou não é muito pessoal, a ética é elástica e a hipocrisia corre solta.
Mas daí você pode dizer que o botão dislike e expressões hateristas são apenas manifestações da liberdade na internet… e talvez você tenha um pouco de razão. Mas é sempre importante lembrar que, invarialmente, o conceito de ”Liberdade” anda junto com o de “Igualdade” e “Fraternidade“.
Somos muito livres pra detonar tudo, mas não gostamos quando fazem o mesmo conosco e, definitivamente, estamos pouco ligando para o que os objetos das nossas ofensas pensam.
Igualdade? Non ecsiste!
Fraternidade? Mórreu!
Liberdade? Só vale a minha!
É fácil detonar tudo! Difícil mesmo é criar alguma coisa que tenha o mínimo de relevância pra estimular qualquer tipo de sentimento nos outros, bom ou ruim.
Nunca tendo criado nada que faz a diferença, você se torna um ~odiador~, porque tem inveja da energia criativa dos outros, porque se acha medíocre por nunca criar nada significativo.
E daí que ser um hater passa a ser praticamente um atestado da sua própria mediocridade.
Já pensou nisso?