Foi tudo muito rápido, e alguma coisa realmente mudou! Durante duas décadas viemos nos formando para assumir uma posição de liderança ou de obediência, em suas diversas variações. Reunimos habilidades e competências, aprendemos a operar dentro de nossos territórios de poder e até conseguimos estabelecer algumas rotinas criando as chamadas “zonas de conforto”. E, aparentemente, tudo estava começando a funcionar razoavelmente bem até que começou essa história de redes.
No começo parecia ser um avanço interessante, melhorando a velocidade e clareza da comunicação. Passaram aqueles cabos azuis por toda a parte e conectaram nossos computadores uns aos outros. Podíamos ficar horas olhando para a tela, selecionando e respondendo emails.
Tudo parecia bem até os cabos sumirem, mas era apenas o começo! Os computadores ficaram menores, portáteis até, e as pessoas passaram a levar seus notebooks para as reuniões e até para casa! Começaram a responder emails depois das seis da tarde, alguns até quase meia-noite. Pela manhã surgiam apresentações, pesquisas e relatórios que pareciam ter sido produzidos em um turno de trabalho extra durante a madrugada. Entramos em estado de plantão permanente e daí em diante as coisas saíram definitivamente do controle.
Os telefones celulares começaram a desaparecer e pequenos computadores de mão, que também servem para chamadas de voz, se tornaram completamente populares. As pessoas passaram a fazer duas ou três reuniões ao mesmo tempo, sentadas ao redor da mesa, acompanhando um assunto e respondendo outros dez. Parecia uma confusão e era claro que logo tudo iria se acomodar novamente, tudo voltaria em breve ao normal. Mas não voltou…
Os projetos começaram a ser afetados diretamente. Como era cada vez mais difícil manter uma centralidade, já que nenhum líder dava conta de tanta informação simultânea, as tarefas passaram a ser designadas, executadas e reportadas de um modo que não fazia muito sentido, mas que, no final, trazia bons resultados. E mesmo os erros, que no passado nos custavam os empregos, passaram a ser vistos como algo interessante, já que podíamos corrigi-los rapidamente e sempre aprender algo importante com isso.
Os líderes de projeto não conseguiam mais dar ordens e orientações, passaram a agir como uma espécie de “animadores de turma”, sempre postando em seus celulares frases de inspiração e conhecimento. As equipes cresceram: 50, 100 e até 200 pessoas trabalhando em um mesmo job, sem papéis muito definidos, conectando suas “contribuições”, por assim dizer.
Finalmente percebi que estávamos dentro de uma espécie de hospício quando me dei conta de que haviam clientes misturados nos ambientes virtuais da empresa, opinando, criticando e construindo junto com a gente! O cúmulo das redes, onde já se viu?
Hoje vivemos assim, adaptados a este fluxo tecno-humano, mergulhados numa teia de relações que viabiliza os projetos, nossas carreiras e nossas vidas. Pessoas de idades diferentes, lugares distantes, idiomas distintos, capacitados dentro ou fora das universidades, todos funcionando juntos e separados ao mesmo tempo, como se fossemos uma espécie de nuvem de gafanhotos super inteligente que sabe para onde ir mesmo que ninguém nos diga!
Da minha parte? Não posso reclamar, pelo menos tenho mais tempo para ficar com as crianças, e não tenho mais aquele velho medo de perder o emprego. Ainda bem, porque nem saberia dizer ao certo qual é minha profissão atual para conseguir outra vaga em algum lugar.
A ando pensando: quem serão os próximos a fazer parte desta rede, os robôs? Quer saber, por que não? A esta altura da rede eu não me surpreendo com mais nada.
Luiz Algarra é designer de fluxos de conversação para grupos humanos.