Um dia desses, numa cafeteria perto de casa, pedimos dois cafés e uns petiscos. O garçom, muito atencioso, prontamente trouxe as bebidas e deu a dica: “esperem um pouco, pois sairá uma nova fornada em 5 minutos”. No final, fiquei com a competência daquele garçom na cabeça: parecia óbvio que prestativo, rápido e cuidadoso, o sujeito tinha o feeling do “atendimento ao público” no sangue.
Meu palpite foi além: provavelmente ele seria bom trabalhando em qualquer área relacionada a isso. Fosse num café, num restaurante e (quem sabe) até numa agência. Afinal, conhecer o dia-a-dia é prática. Mas ter o tato (e os nervos) para atender alguém, são outros quinhentos. E tudo isso me fez pensar sobre uma dúzia de pessoas que, por pouco, não fizeram o que realmente gostariam de fazer.
Um caso é o do René Gruau.
Filho de um militar italiano, tinha tudo para fazer carreira nas forças armadas. Mas com o fim do casamento dos pais, foi morar em Paris com a mãe. E lá teve toda a liberdade para fazer o que realmente queria: o oposto. Desenhar/Pintar para o mercado da moda. Um gênio, com talento nato para isso. Tanto é que antes dos 20 anos, já havia publicado ilustrações para a Vogue, Marie Claire e Lidel.
Eu não entendo bulhufas de moda, mas sempre li artigos sobre o impacto do trabalho dele nesse mercado. O que é fácil de entender, visto pelo traço completamente autoral e o “Q” de arte que as ilustrações carregam. Foi ele que transformou em realidade as primeiras idéias de estilistas (na época ainda desconhecidos) como Christian Dior, Balenciaga, Elizabeth Arden e Givenchy.
Chegou até a fazer anúncios. Primeiramente para a Dior. E depois que gostou da brincadeira, criou para outras gigantes, como Martini, Air France e Omega. Isso sem falar dos cartazes. Entre os mais importantes, está o clássico “La Dolce Vita”, do Fellini.
Foi dono de um traço delicado e feminino. Do tipo “simples-complexo”. Coisa que poucos artistas conseguiram alcançar até hoje. Um ilustrador com alma de artista, que possui até trabalhos expostos no Louvre. Mas que tinha tudo para ter se tornado um militar. Irônico, não?
E você? Trabalha realmente com o que ama?