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Elias Figueiroa é publicitário por vocação e formação, pós-graduado em criação publicitária e marketing de varejo. Redator em tudo o que faz, trabalhou no Brasil e no exterior. Campanhas veiculadas pelo mundo, mas o coração sempre em casa.
Para alguns, esta é uma pergunta retórica. Para outros, uma pergunta incisiva, que reforça o sentimento de mudança. “Se existisse uma bússola de rumo profissional, para onde ela me levaria?” Sempre ouvi a lamúria de muitos colegas de profissão ao me confessarem o desejo de chutar o pau da barraca e pular fora. Neste circuito, vi muitos talentos desistirem da labuta. Muita gente que admiro pediu as contas.
Destes autoexilados, poucos saíram por reconhecer que ali não era o seu lugar, muitos foram motivados pela realidade da profissão. Ser publicitário num mercado que ainda não cresceu o suficiente para abraçar a todos é penoso. Sim, sei que vários profissionais acharam seu espaço, fizeram seu nome, são parte de uma agência grande e a vida segue. Mas para uma esmagadora maioria, a realidade é bem diferente. Afinal, ano após ano um exército de novos profissionais são lançados onde não há espaço para todos. Existe o conjunto dos que, apesar da certeza de estarem onde o coração quer, não foram abençoados por uma estabilidade empregatícia.
Demitidos, muitos perderam a chance de continuar fazendo o que amam. Neste cenário surgem aqueles que sabem seu norte, mas são obrigados a refazer a rota. Este exercício de recriar a vida quase sempre é uma oportunidade de responder um chamado, de descobrir que há muito além dos outdoors.
No documentário Lemonade (2009), vemos relatos cativantes de publicitários que tomaram o rumo do prazer de viver ao descobrir que a demissão foi, ao contrário do que pensavam, uma dádiva. No site do filme você pode conferir mais histórias e, se for o caso, fazer o upload da sua. Ainda citando referências, o livro autobiográfico de Michael Gates Gill, nos apresenta, através de um linguagem simples, a história de um ex-publicitário que saiu do luxo para viver o prazer do cotidiano simples após perder o emprego numa das maiores agências do mundo.
Certo, eles foram demitidos. Mas e os que simplesmente não sabem? Os que descobriram que podem estar onde não gostariam? Ou seja, os que pensam no divórcio profissional. Neste caso, com o perdão do cliché, como num relacionamento amoroso, muitas vezes só descobrimos o que tínhamos ao perder. Na dúvida, o melhor é perder. É contraditório o conceito de perder para ganhar. É sim, mas funciona. Sei disso, pois vivenciei esta experiência. Se seu norte nunca nunca foi a publicidade, é a chance de ir atrás do seu futuro. Mas, se for, não adianta lutar. Pois você pode até sair da publicidade, mas a publicidade não sai de você. Se você, assim como eu, é apaixonado por esta profissão, mas está cansado de ser publicitário, esta frase fará todo sentido quando você der o primeiro passo para fora da agência.
Já o fiz, confesso, mas logo voltei.
Quem aqui não paquerou outro ofício ao comer pizza na agência enquanto o sarcástico relógio sonorizava a madrugada? Motivos é o que não faltam quando avaliamos as razões para sair desta vida. Entretanto, quando somos envoltos pelos motivos para ficar, sentimos que há motivos para lutar. E este prazer da redescoberta, é sensacional, é como um insight divino mostrando que estamos onde pertencemos. E o trabalho dos sonhos? Não duvido que exista, mas desconheço o emprego utópico. Independente da intangível concepção do “faço o que gosto”, estamos todos a mercê de fatores externos que quase sempre nos motivam a ficar ou sair: Um cliente que adora refações, um diretor que sabe menos que o seu cachorro, o ego do cara que senta ao seu lado, poucos fins de semana com a família, enfim, variáveis não faltam.
Mas, aqui uma certeza: ninguém fará sua parte no que for preciso para melhorar sua vida profissional. Somos os principais responsáveis por esta mudança. Neste barco só há você. Se pular, quem rema? Se o seu norte for publicidade, reme, reme e reme como se não houvesse amanhã. Você pode não chegar ao emprego que sonhava, mas estará bem perto. Voltei. Sou publicitário. Hoje faço o que gosto embora viva momentos recheados de desprazeres. C’est la vie, com dizem.
Aprendi a valorizar meu espaço e a lidar com as “variáveis” inerentes à profissão. O importante mesmo é saber que a dúvida sobre “Quem sou eu?” faz parte de reflexões positivas, é um sinal de que amadurecemos e buscamos por melhorias. É importante evoluir, mudar e se adaptar, mesmo que seja para descobrir o óbvio. Acredite, só a mudança é permanente.
Nenhuma linha foi escrita baseada em um pesquisa ou estudo científico, mas em experiência pessoal oriunda da profissão. Não tenho a intenção de generalizar nem criar uma verdade, até porque, “sou coração, não cardiologista”. Este texto, amigos, não passa de uma tentativa de reflexão coletiva.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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