Tornar-se empresário é um grande desafio nos tempos atuais. Basta imaginar as dificuldades da própria natureza de ter seu negócio.
No início, criamos a ilusão de liberdade, respeito, dinheiro a curto prazo. Após o entusiasmo e expectativas frustadas, vem a realidade exaustiva e uma desmotivação total da vida. No início, ser empresário é acreditar em uma história romântica; o empresário muitas vezes acredita que sua ideia é totalmente diferenciada de todos e que só é preciso investir e executar. Na verdade, a maioria dos negócios não é assim.
Por falar nisso, onde você estava antes de abrir seu negócio?
Caso esteja pensando em abrir, onde você está agora? Bem, se você é como a maioria das pessoas que conheci no Brasil, estava trabalhando para alguém, certo? O que você estava fazendo? Provavelmente um serviço técnico, como quase todos que entram no mundo dos negócios: você era um analista, contador, vendedor, publicitário, psicólogo, médico, palestrante, engenheiro, administrador.
Porém independente do que você era, seu serviço era técnico e, provavelmente, você era excelente nisso. Mas estava trabalhando para alguém. Então, um dia, sem nenhuma razão aparente, você faz uma reflexão: “Para que estou fazendo isso? Por que estou trabalhando para esse cara? Eu sei mais sobre esse trabalho do que ele mesmo; se não fosse por mim, ele nem teria empresa. Qualquer leigo pode dirigir uma empresa”. Feita essa reflexão, vem um surto, não tem mais jeito: você não pode escapar. Você tem que abrir seu negócio, você precisa ser empresário. O pressuposto fatal é: se você entende do serviço técnico de uma empresa, você entende dos negócios que envolvem esse serviço técnico. E essa visão pode ser a origem da falência da maioria das empresas no Brasil.
Os trabalhos técnicos de um negócio específico e a gestão da empresa que faz trabalhos técnicos são duas coisas diferentes. Entretanto, o técnico que abre sua empresa não percebe essa diferença. Ele acredita que uma empresa não é um negócio, mas, sim, um lugar onde se trabalha. Assim, o técnico assume o trabalho que ama fazer e o transforma em emprego. O trabalho que ama torna-se uma obrigação, dentre um turbilhão de outras obrigações menos conhecidas e menos prazerosas.
Para ser um empresário bem sucedido é preciso ter muita maturidade e uma habilidade de assumir três papéis fundamentais: o de Empreendedor, o de Administrador e o de Técnico. Assumir esses três papéis é um desafio constante no dia-a-dia; na verdade, uma batalha intelectual e emocional, pois nenhum desses papéis isoladamente pode assumir o controle geral da situação. Precisamos das qualidades desses três modelos mentais para a realização de um negócio bem-sucedido.
O Empreendedor
O modelo mental de Empreendedor transforma a situação trivial em uma oportunidade única. Ele é o grande visionário, sonhador, o catalisador das mudanças. O Empreendedor vive no futuro, nunca no passado, e, raramente, no presente. Ele funciona de forma abstrata e menos pragmática. Sempre inovando, um grande estrategista, criador de métodos para conquistar novos mercados. Em geral, ele opta pela harmonia, mas tem necessidade de controlar as pessoas e os eventos no presente de forma que possa concentrar-se em seus sonhos.
O Administrador
O modelo mental de Administrador é pragmático. Sem isso não haveria planejamento, ordem ou sequer previsões. Se o Empreendedor vive no futuro, o Administrador vive no passado. Onde o Empreendedor necessita de controle, o Administrador almeja ordem. Onde o Empreendedor obtém sucesso, o Administrador prefere o status quo. O Administrador é quem corre atrás do Empreendedor para arrumar a bagunça; sem o Empreendedor não haveria bagunça para arrumar. Sem o Administrador não haveria nem negócios. É dessa diferença que nasce o complemento das visões e a possibilidade de concretização de grandes trabalhos.
O Técnico
O modelo mental de Técnico responde pela execução dos trabalhos. O Técnico é o executor, adora executar tudo. Se o Empreendedor vive no futuro e o Administrador no passado, o Técnico vive no presente. Ele adora a sensação das coisas e fatos. Dessa forma, ele sempre desconfia daqueles para quem trabalha, pois os empreendedores e os administradores sempre tentam colocar mais trabalho do que o técnico pode assumir. Para o Técnico, pensar é improdutivo, ele não está interessado em ideias, mas, sim, em executar suas tarefas pré-definidas. Na visão do Técnico o Empreendedor sempre está complicando sua vida, com novas ideias mirabolantes e sem sentido. Já o Administrador muitas vezes incomoda o Técnico porque sempre está lhe determinando o que fazer e controlando todos os seus passos.
Para o Técnico, o sistema organizacional é desumano, frio, sem vida, tira sua individualidade. Assim podemos concluir que o Empreendedor sonha, o Administrador organiza e o Técnico executa. A raiz dos conflitos desses modelos mentais é que todos temos um Empreendedor, um Administrador e um Técnico dentro de nós. E, se eles estão equilibrados, seremos um empresário totalmente pronto para desenvolver nosso próprio negócio.
O Empreendedor estará livre para se aventurar, o Administrador livre para organizar e o Técnico livre para executar. Assim, você empresário vai compreender a diferença de um Projeto (Empreendedor), de um Modelo de Negócio (Administrador) e de um Produto ou Serviço (Técnico).
Ricardo Teixeira
Consultor e Treinador Comportamental