Como seres humanos imperfeitos, uma de nossas faltas mais graves e mais contundentes é não desenvolver plenamente as nossas qualidades, tampouco o enorme potencial que possuímos. Conforme ficamos mais velhos, e a vida, com todas as suas pressões e dificuldades, começa a nos exaurir, invariavelmente acabamos entrincheirados em uma pérfida e desmesurada zona de conforto, e esta tendência para a comodidade fica cada vez mais arraigada em nós com o passar dos anos. Quando saímos da juventude, e ingressamos na fase adulta – com raras exceções – acabamos nos acostumando com a vida exatamente da maneira como ela é. E a ousadia, a audácia, e a coragem, sobretudo aquela indômita vontade de mudar o mundo, tão latente em nosso coração durante a juventude, aos poucos vai desaparecendo, e dá lugar a um incoercível e apático sentimento de monotonia, que simplesmente nos empurra de um dia para o outro.
No entanto, é necessário compreender que ainda existe em nós, em algum lugar, aquela vontade de mudar o mundo. E é fundamental reviver aquele entusiasmo que, com tanta vivacidade, existia em nossa juventude, e que experimentamos novamente, quando decidimos montar o nosso próprio negócio. Mas por que razão deveríamos alimentar em nós o entusiasmo? Porque é um sentimento que pode motivar, mudar e transformar a vida de outras pessoas. E essa deve ser a razão primária de nossas vidas: melhorar a vida dos outros. Isso tem tudo a ver com empreendedorismo. Embora possa tomar um pouco do seu tempo, permita-me, caro leitor, narrar uma história muito interessante, que com certeza irá mudar o seu dia.
Há algum tempo atrás, em uma cidade com população razoavelmente grande, haviam dois empresários, que gerenciavam empresas muito similares, mais ou menos com a mesma quantidade de funcionários, e no mesmo segmento de mercado. Como não sabemos os seus nomes, vamos simplesmente chamá-los de A e B. O empresário A é o personagem principal de nossa história. As empresas ficavam uma ao lado da outra, e os dois empresários se conheciam. Não eram grandes amigos, porém mais pela ausência de oportunidades para socializar, e também em virtude da falta de tempo – ambos, em função de suas respectivas empresas, eram indivíduos muito ocupados – do que por quaisquer eventuais animosidades que por ventura poderiam existir, em função de que eram competidores, visto que atuavam no mesmo ramo de negócio.
Eventualmente, depois de um breve período inicial de sucesso, a empresa do empresário A começou a ir muito mal. O faturamento, de repente, caiu drasticamente e este, não tendo melhores opções, se viu obrigado a incorrer em demissões. Isso deixou-o profundamente abalado, pois teve que demitir funcionários que tinham muitos anos de empresa. Depois de muitos meses, como a situação não melhorava, e o mercado não dava indícios de que iria progredir, mas apenas recuar, o empresário A entrou em profunda depressão. Tinha enorme receio de perder o seu negócio, e de não ter como se sustentar, ou sustentar a sua família. Ia todos os dias trabalhar terrivelmente deprimido e consternado. Ao chegar em seu escritório, olhava as faturas, fechava a porta, e se debruçava sobre a mesa, profundamente desanimado. Inclusive recaiu em velhos vícios, e voltou a fumar.
Em uma tarde, quando estava fumando com um de seus empregados, viu um enorme caminhão estacionar na empresa ao lado, sua concorrente, cujo proprietário era o empresário B. O caminhão não estava lá para fazer uma entrega, e sim, a coleta de um pedido. Um enorme pedido, que totalizava trinta e cinco volumes. Nisso, o empresário A pensou “Puxa, como eu gostaria de realizar vendas assim. Como será que ele conseguiu?”
Com o passar dos dias, isso se repetiu, e com uma frequência estarrecedora. O empresário A ficou alarmado. E não demorou a perceber que a empresa do seu concorrente ia muito bem. Mas havia algum motivo especial para tanto sucesso?
Alguns dias depois, após o término do expediente, o empresário A estava tomando um café, em uma confeitaria próxima do local de trabalho. Nisso, entrou o empresário B. Ambos cumprimentaram-se, mas apenas acenando a mão, como já faziam há anos, quando passavam um pelo outro. Acontece que a confeitaria estava cheia, e o único lugar vago que havia no estabelecimento era um banco vazio ao lado do empresário A. Depois de fazer o seu pedido à atendente, o empresário B sentou-se ao lado do seu conhecido concorrente.
Ambos começaram a conversar, em um tom bem casual. Depois, invariavelmente, começaram a falar de trabalho. Foi quando o empresário B perguntou ao empresário A: “Então, como estão os negócios?”. O empresário A, por um segundo, sentiu-se tentado a mentir. Gostaria muito de se gabar, de vangloriar-se do seu suposto sucesso, proclamar para o seu concorrente como sua empresa estava destacando-se no mercado, e como tinha conseguido ótimos contratos e fechado excelentes pedidos no último mês. Não obstante, seu desânimo estava tão grande, seu estado de humor encontrava-se tão deprimido, que o empresário não viu sentido algum em construir uma falsa reputação para o seu concorrente. E sentindo uma enorme necessidade de desabafar, declarou, sem rodeios, como estavam péssimos os negócios, e que vislumbrava a possibilidade de, muito em breve, ter que fechar a sua empresa.
Nisso, os dois empresários começaram a conversar. Solidarizando-se com o amigo e colega de profissão, o empresário B, que era quinze mais velho, e portanto, tinha muito mais experiência no mercado, decidiu que precisava ajudar o seu colega. Depois de uma longa conversa, o empresário B disse ao empresário A: “Passe amanhã o dia comigo na minha fábrica. Deixe alguém encarregado na sua. Gostaria de lhe ensinar uma ou duas coisinhas.”
E foi isso o que ele fez.
Na manhã seguinte, lá estava o empresário A, como combinado. Esperou o empresário B na entrada da empresa deste, e quando ele chegou, ambos cumprimentaram-se, e entraram na fábrica. Ao entrar, encaminharam-se para a cozinha. O empresário B falou ao empresário A que todos começavam o dia juntos, tomando um bom café da manhã. Ora, isso o empresário A não fazia na sua empresa. Lá, o empresário B o apresentou a todos os demais, comunicando que este passaria o dia com eles. No refeitório, o empresário A percebeu que o clima era muito descontraído, que todos contavam anedotas e piadas, e que o empresário B, o proprietário da fábrica, interagia com todos, de maneira muito espontânea e cordial. Parecia ter muito ânimo, vigor, energia e disposição, além de um fantástico bom-humor. O empresário A imediatamente notou como isso criava uma dinâmica de coleguismo e intimidade entre o dono da fábrica e os seus funcionários, coisa que ele não possuía na sua empresa, porque nunca tivera a iniciativa de criá-la. Percebeu também que a empresa não tinha cartão ponto. Os funcionários deixavam a cafeteria para começar o seu expediente quando bem entendiam. Ao reparar nisso, o empresário A perguntou ao empresário B por que ele permitia isso. Este lhe respondeu que isto criava um verdadeiro senso de responsabilidade entre os empregados. Além do mais, ele criara em sua empresa um sistema que recompensava o esforço, e punia a indolência. Quem trabalhava mais, quem produzia mais, invariavelmente ganhava mais.
Ao longo do dia, o empresário A percebeu como o empresário B trabalhava. Ele supervisionava o trabalho de todos os seus empregados, mas sem ser rígido ou demasiado exigente. Interagia com todos, sem distinção, sendo muito educado com as mulheres, e um verdadeiro irmão para os homens, sempre muito alegre, cordial e vivaz. Soube pelos empregados que o empresário B visitava em casa funcionários doentes, e oferecia pessoalmente todo o tipo de assistência. Aqueles que trabalhavam para ele nem sequer cogitavam a possibilidade de sair da empresa. E o empresário A percebeu como isto deixava os empregados altamente motivados, plenamente dispostos a executarem um ótimo trabalho e darem tudo de si em suas respectivas tarefas. Ao longo do dia, conforme o empresário B ia mostrando ao empresário A todos os processos existentes em sua fábrica, na etapa final explicou como os pedidos eram encaminhados pelos quatro representantes com os quais trabalhava. Nisso, o empresário A deu-se conta de que usava os serviços de apenas um representante comercial, e que este não estava sendo nem um pouco eficiente. Ao contar isto para o empresário B, este lhe perguntou? “Mas quanto oferece a ele de comissão?” O empresário A respondeu que dava ao representante uma comissão de 10%. “Ora, aí está o seu erro”, respondeu o empresário B. “Eu ofereço a todos eles 25% de comissão por todos os pedidos que fazem. 10% é pouco. Não é a toa que ele não está tendo rendimento. Não está se sentindo devidamente motivado. Você está cometendo uma falha crucial. Deve corrigir isto imediatamente.”
Ao longo do dia que passou na empresa do seu concorrente, o empresário A conseguiu perceber uma série de erros que vinha cometendo, como proprietário de um negócio, e também como gestor e administrador. Ao final, ele perguntou ao empresário B: “Como conseguiu tudo isto?” Ao que o empresário B respondeu-lhe: “A motivação é o segredo! Você deve manter as pessoas motivadas. Deve elogiá-las, especialmente quando fazem um bom trabalho. E tão importante quanto: deve saber ouvi-las. Vou lhe contar um segredo: interagir adequadamente é tudo.”
Ao final do expediente, se despediram. O empresário A agradeceu ao empresário B pelo ótimo dia que tivera, e, acima de tudo, pelas sábias lições. Ao chegar em casa, o empresário A refletiu sobre tudo o que aprendera, e constatou que teria que fazer muitas mudanças na maneira como administrava a sua empresa. Não obstante, sabia quais seriam. Ele mudaria tudo em sua empresa. A começar pela sua própria atitude. Nunca mais chegaria na empresa consternado, deprimido ou desanimado.
No dia seguinte, o empresário A, ao chegar na empresa, reuniu todos os funcionários, e disse que começariam a tomar o café da manhã juntos. A empresa possuía um refeitório, que não era usado há anos, mas que seria reativado. Lá, anunciou que pretendia, dentro de algumas semanas, abolir o cartão ponto, pois adotaria uma nova forma de trabalho, que incluiria um bônus de produtividade no futuro. Ele estava determinado a fazer o seu empreendimento dar certo, e para isso, iria realizar todas as mudanças que se fizessem necessárias.
Evidentemente, as mudanças implementadas pelo empresário não ocorreram da noite para o dia. Foi um processo de vários meses. Mas ele começou a interagir muito mais com os seus funcionários, passou a estar presente com frequência na linha de produção, reuniões periódicas passaram a ser realizadas e mais dois representantes comerciais foram contratados. A estes, ofereceu 20% de comissão, e aumentou para mais 10% o percentual de comissões do representante comercial que já trabalhava com ele. Não podia oferecer ainda os 25% que o seu amigo e concorrente oferecia aos seus representantes comerciais, mas prometeu que, assim que a situação melhorasse, ele lhes concederia a devida bonificação. Com uma perspectiva diferente sobre o seu próprio negócio, e uma atitude mais proativa e positiva para com a sua vida profissional, o empresário A passou a gerenciar o seu negócio de uma forma mais dinâmica e construtiva. Ia trabalhar alegre todos os dias. Interagia com todos os funcionários, e todos iniciavam o expediente juntos, depois de um ótimo café da manhã.
Demorou seis meses para que as vendas aumentassem, mas elas cresceram. Um ano depois, sua empresa já estava contratando novamente, ao invés de demitir.
Dezoito meses depois, os dois empresários encontraram-se novamente, naquela mesma cafeteria. Desta vez, o empresário A fez questão de pagar-lhe o café e o pastel, como uma cordial forma de agradecimento. Agradecido, o empresário B lhe perguntou como estavam os negócios. O empresário A respondeu-lhe, dizendo que tudo estava ótimo, tudo ia às mil maravilhas. Na vida profissional, ao menos. Como nem tudo era ou jamais será perfeito, a vida pessoal, por outro lado, andava um pouco abalada, confessou. O empresário A confidenciou ao seu amigo que estava se divorciando. “Sabe, nem sempre é fácil ir trabalhar, e ser capaz de manter aquele bom humor que o senhor me ensinou. Eu e minha esposa estamos nos separando. E para piorar, recentemente passei por uma cirurgia. Tive apendicite. Manter a alegria, a disposição e a felicidade no trabalho pode ser bem difícil diante destas circunstâncias, sabia?” Nisso, o empresário B, com um enorme sorriso no rosto, lhe falou: “E você acha que eu não sei? Minha querida esposa, que estava comigo há trinta e seis anos, faleceu há dez meses. Minha insônia me deixa mais debilitado a cada dia. E minha artrite, infelizmente, continua piorando. Ultimamente, tenho ido ao médico e a farmácia toda a semana.” Ao perceber que seu colega passava por dificuldades muito piores do que as suas, o empresário A, atônito, perguntou ao empresário B: “E como consegue trabalhar com tantos problemas? E com toda a disposição e ânimo, tão típicos do senhor?”. Nisso, o empresário B lhe respondeu: “Ora, eu escolho deixar os meus problemas em casa. Eles estarão lá quando eu voltar. Muitas vezes não é fácil, é verdade, mas faço minhas orações, e peço a Deus sua graça antes de sair de casa. Em 50 anos de trabalho, esse hábito nunca falhou. Além do mais, imagine você, como ficariam os meus funcionários, se me vissem chegando desanimado todo o dia na empresa? Isso certamente refletiria sobre eles, de uma forma muito negativa.” Dito isto, o empresário agradeceu o café e o pastel, e convidou o seu amigo para visita-lo novamente na fábrica, quando tivesse um tempo disponível.
Depois disso, tendo assimilado a sabedoria dos ensinamentos de seu colega mais velho e mais experiente, o empreendimento do empresário A tornou-se muito bem sucedido. A empresa passou a crescer, expandiu para outros segmentos do mercado, e até mesmo abriu duas filiais. Depois de uma década, o empresário B queria aposentar-se, mas não tinha filhos que dessem continuidade ao seu negócio. Desta maneira, o empresário A comprou sua empresa, oferecendo-lhe uma generosa quantia, também como expressão de gratidão pelos ensinamentos dados. O empresário A falou ao seu querido mentor que levaria o valor destes ensinamentos aonde quer que seus empreendimentos o levassem.
Não sabemos onde essa história de fato ocorreu, ou se é mesmo verdade ou não. O que importa são os ensinamentos nela contidos. É verdade que o desânimo tem grande capacidade de nos abater, nos desmantelar, nos oprimir, especialmente quando as coisas não andam da maneira como gostaríamos. Mas não podemos permitir que torne-se tão grande a ponto de sufocar nossas virtudes. Precisamos – na verdade devemos – usá-las para despertar as virtudes dos outros. Na história que você acabou de ler, o empresário B usou as suas qualidades e as suas virtudes para o empresário A despertar para um novo mundo de possibilidades. Antes vivendo em um acinzentado mundo letárgico, com suas nuances em preto e branco, o empresário B levou-o a um mundo mais colorido, por assim dizer, que só poderia existir se o empresário A, de fato, deixasse que suas qualidades finalmente aflorassem. Este por sua vez, permitiu que estas virtudes suplantassem seu desânimo, de maneira que passou a enxergar o seu negócio por um viés diferente, e faria por seus funcionários o mesmo que o empresário B fez por ele.
Esta história, apesar de extensa, possui uma moral bem simples. Ela nos mostra que as dificuldades, na vida, são inevitáveis. Mas podemos escolher a maneira de lidar com elas.