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O Poder Executivo e o Poder de Execução: um ensaio em camadas


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Estamos na reta final de mais uma campanha para eleições diretas: domingo os brasileiros portadores de Título de Eleitor vão votar para eleger democraticamente os titulares do Poder Executivo e Legislativo nas esferas estaduais e federal. Muitos candidatos já tem direito a seus cargos e pretendem continuar “no poder” (imagino que todos queiram). Andei pensando sobre a natureza do poder: em que consiste, para que serve, quais candidatos são preferíveis, entre outras questões – puxando um pouco para a interpretação do Poder de Execução.

Não pude deixar de fazer um paralelo com o mundo empreendedor, o mundo do poder de realização. Esta é a dimensão do mundo executivo, natural às empresas e a outros tipos de organização mas, em sentido mais funcional, poder é basicamente o oposto de não poder. Portanto, pode ser compreendido e empreendido até na vida pessoal. Poder é o aquilo que transcende o impossível, o que não pode. Sendo assim, realmente não diz respeito apenas a cargos – e nem sempre é “do bem” (mesmo se for oficial).

O fim do poder: estar “lá” não é mais como costumava ser

Li um livro bastante interessante, lançado em 2013 por Moisés Naim, um PhD pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), membro do Conselho Internacional de Mídia do Fórum Econômico Mundial e é o presidente do Grupo dos Cinquenta, uma organização dos CEOs das empresas mais progressistas da América Latina. Ele também já foi Ministro na Venezuela e escreveu ao menos outros sete livros e integra diversos outros Conselhos de entidades e publicações (especialmente nas áreas de Política e de Economia).

Em tal livro, chamado “O fim do poder”, ele apresenta fatos e nos mostra como o poder está cada vez mais fácil de ser obtido, porém mais difícil de ser mantido. Vejamos algumas frases dele:

  • “Não estou afirmando de modo algum que não haja no mundo muitíssima gente e instituições com imenso poder. As coisas de fato são assim, é óbvio. No entanto, o que também é certo – embora menos óbvio – é que o poder está se tornando cada vez mais fraco e, portanto, mais efêmero“;
  • “os grandes atores tradicionais (governos, exércitos, empresas, sindicatos, etc.) estão cada vez mais sendo confrontados com novos e surpreendentes rivais – alguns muito menores em tamanho e recursos”;
  • é tentador ficar focado apenas no impacto da Internet e das novas tecnologias da comunicação em geral, nos movimentos do poder em uma ou outra direção, ou na questão de se o poder soft da cultura está tomando o lugar do poder hard dos exércitos. Na verdade, elas podem até obscurecer nosso entendimento das forças fundamentais que estão mudando a forma de adquirir, usar, conservar e perder o poder”;
  • “O poder pode parecer abstrato, mas para aqueles que tem maior sintonia com ele – ou seja, os poderosos – seus altos e baixos são sentidos de modo muito concreto”;
  • “enorme distância entre a percepção e a realidade do meu poder. Em princípio, como um dos principais ministros da área econômica, eu detinha imenso poder. Na prática, porém, contava com uma capacidade muito limitada de empregar recursos, mobilizar pessoas e organizações e, em termos mais gerais, de fazer as coisas acontecerem”;
  • “vim a descobrir que minhas experiências no governo da Venezuela eram muito comuns e que, na realidade, eram a norma em muitos outros países. Fernando Henrique Cardoso – o respeitado ex-presidente do Brasil (…) resumiu isso para mim. ‘Eu sempre ficava surpreso ao ver o poder que as pessoas me atribuíam’, contou-me quando o entrevistei para a elaboração deste livro. ‘Mesmo pessoas bem informadas, com preparo político, vinham ao meu escritório e me pediam coisas que demonstravam o quanto me atribuíam muito mais poder do que eu tinha na verdade. (…) A distância entre nosso poder real e o que as pessoas esperam de nós é o que gera as pressões mais difíceis que qualquer chefe de Estado tem de suportar'”;
  • “nas principais democracias, os partidos continuam sendo as principais organizações políticas e ainda conservam bastante poder. Mas, apesar das aparências, estão fragmentados, enfraquecidos e polarizados tanto quanto o sistema político a que pertencem“.

O macro deriva do micro ou vice-versa? 

Para ele, a degradação do poder não é uma coisa boa em si, pois abre brecha para muitas formas piores de poder (como o poder do mais forte, que é o poder da violência). Certamente, em especial no mundo da economia, desordem e caos são ocasiões em que novas ordens são estabelecidas e novos poderes são assumidos.

Aí é que eu tento entender umas coisas, só que não sobre partidos, estruturas, governos, leis. Mas sobre pessoas. As próximas frases são minhas:

  • estamos na Revolução das Pessoas: não é apenas a revolução tecnológica ou da economia colaborativa, mas uma revolução na própria noção de “poder fazer as coisas” e de liderar. Lidera quem consegue orientar e guiar, ser membro da equipe e ainda fazer uma contribuição que ultrapassa os limites de suas atribuições. Sob esta ótica, não parece que todo mundo que tem o poder por direito realmente exerce o poder de fato;
  • estamos na Revolução das pessoas: nossa juventude, que não conheceu no Brasil uma ditadura declarada, uma guerra declarada, uma crise declarada (é tudo muito velado e fugaz, mas também imbricado, difícil de separar da normalidade da vida e dos fatos). Portanto, somos jovens que, ao mesmo tempo, não tiveram a experiência de conquistar com garra as “Diretas Já”, ou um impeachment. Não está claro nem se conseguimos baixar o preço das passagens de ônibus urbanos! Mas certamente conseguimos mudar as nossas próprias vidas, e as de outras pessoas, por meio de empresas e de outros tipos de projetos criados e geridos por jovens. Portanto, há um poder real nas mãos.
  • estamos na Revolução das Pessoas: a percepção deste poder de realização dos jovens, da capacidade do faça-você-mesmo (do it yourself) e do movimento maker, faz também com que os jovens tenham uma certa ansiedade, impaciência, que ficam muito bem no sentido de serem um inconformismo, uma ativação de mudança, mas muitas vezes acaba desandando para o lado do “entitlement”, do se sentir “entitulado” ao direito a alguma coisa. Quando se trata do direito civil e de outros defendidos pela Constituição, ótimo! Porém, ficar de birra porque a realidade não acontece da forma como imaginamos sempre foi, ainda é e creio que sempre vá ser uma atitude imatura.
  • estamos na Revolução das Pessoas: talvez o cerne da corrupção (não apenas de valores e de poderes, mas também a corrupção ética e moral) esteja, de certa forma, associada a uma questão histórica bem característica ao Brasil. Aqui, aprendemos a tratar como autoridade e como doutor quem estuda a Lei, pois aqui, o nome do curso é Direito. Em outros países, o nome do curso é Lei e não estou dizendo que nos países onde o curso chama-se Lei as pessoas não sejam corruptas ou que o poder funcione perfeitamente. Estou dizendo que a gente confere poder, a gente dá autoridade às pessoas simplesmente porque elas foram entituladas em um curso! É normal respeitar desta forma quem foi eleito ou selecionado de outra forma para cargos públicos, mas eu creio que tanto esses cargos quanto os de advogados privados – quanto o exercício da cidadania – pode ser diferente se a gente não pensar em ter “direito”, mas em ter “dever”.
  • assista a este vídeo com palestra de David Moritz (da Sequoia Capital) para entender a “Revolução das pessoas” sob uma perspectiva tecnológica e econômica, envolvendo hábitos e possibilidades.

Tá, e daí?

Para mim, a pergunta que fica é: com tanta gente nesse nosso país; com cada vez mais gente demonstrando no dia-a-dia que seu extremo poder de realização vai além do suportar e sobrevier às “qualidades” da vida urbana ou rural, chegando a impactar a vida de tantos outros, será que a melhor coisa é autorizar a manutenção do poder dando mais um mandato para quem já está governando há um bom tempo? Independentemente da qualidade anterior do governo ou da atual do país, esta é uma pergunta que muita gente vai se fazer – independentemente de estarem satisfeitos com a atual presidenta Dilma Roussef, do PT, que substituiu Luís Inácio da Silva, também do PT, que exerceu o cargo dois mandados inteiros.

Uma última pergunta: será que, apesar do que o antigo presidente Cardoso falou para o autor de “O fim do poder”, o Brasil é uma exceção e aqui o Poder não se perde, mesmo quando se degrada?

A quem é empreendedor, a quem é criativo, a quem é inovador, a quem é motivado e atua fora do governo: minha esperança (e até expectativa) reside muito mais em vocês. A quem atua dentro do governo e é empreendedor, criativo, inovador, motivado: a gente ainda consegue enxergá-los e agradecê-los.

Pra mim, o que dá para controlar um pouco mais e melhor, e parece ter um efeito bem real, é o Poder de Execução – não o Poder Executivo. Boa sorte a todos nós.

Imagem de abertura: Young powerful businessman lifting brick wall above head, via Shutterstock

 

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