Sendo conciso, lacônico e objetivo, a resposta é não.
Não obstante, o mercado brasileiro têm sim, um enorme potencial de crescimento, em diversas áreas, setores e segmentos, que não deve ser ignorado. No entanto, o empreendedor deve ter plena consciência de que provavelmente terá pela frente uma árdua jornada, que ficará especialmente complicada e difícil, quando ele tiver que enfrentar os terríveis e árduos obstáculos que lhe serão impostos, pelo letárgico, ineficiente e sonolento aparato burocrático, do funcionalismo público brasileiro.
Ser empreendedor no Brasil é estar completamente sozinho, e entender que o governo nunca será por você, mas sempre contra você. Embora possa parecer brutal, é a realidade, e estar inserido, e compreender perfeitamente a dinâmica visceral dessa realidade é essencial para ser empreendedor. Existem tantos problemas no combalido e enfermo sistema público brasileiro que causam dificuldades para o ousado, bravo e destemido empreendedor, que citar ou enumerar todos eles é simplesmente impossível.
Ser empreendedor no Brasil é compreender que você viverá escravo de um sistema parasitário, que vai fazer o possível para sugar tudo o que você têm.
Ser empreendedor no Brasil é compreender que você viverá escravo de um sistema parasitário, que vai fazer o possível para sugar tudo o que você têm.
O funcionalismo público no Brasil é sustentado pela iniciativa privada, mas ao invés de buscar auxiliá-la e crescer com ela, os governos brasileiros – e quando digo governos, me refiro a todos eles, municipal, estadual e federal – estarão sempre agindo como parasitas e infelizmente, sempre colocarão todo o tipo de obstáculos no caminho do empreendedor. Você nunca terá facilidades, auxílio ou suporte do governo.
Você nunca terá facilidades, auxílio ou suporte do governo. Click To TweetMas evidentemente, as situações variam muito dependendo do ramo de atuação da empresa, em que mercado ela está inserida, e em que parte do Brasil ela está. Alguns governos municipais funcionam mais do que outros, alguns têm vantagens e iniciativas que outros não têm. O importante é levar tudo em consideração, quando você for abrir uma empresa, seja ela do ramo que for.
Um grande diferencial pode ser realizado antes de montar a empresa, independente do porte. Um empreendedor consciente buscará conhecer todas as etapas, processos e obstáculos que existirão em seu caminho.
Um empreendedor ousado não é aquele que vai na cara e na coragem, mas é alguém que antecipa, se previne e busca soluções para todos os percalços que o funcionalismo público invariavelmente lhe trará.
Para isso, um bom contador é fundamental. Mas até isso deve ser escolhido com atenção, e muito, muito cuidado. Um bom contador deve ser alguém que também possui um olhar empreendedor, o que é muito difícil de achar. A grande maioria dos contadores simplesmente segue o visceral e improdutivo padrão da normalidade contábil, que é cobrar do empreendedor tudo aquilo que for possível cobrar, até mesmo aquilo que não é essencial ou fundamental. Não é gratuitamente que um bom empreendedor, no Brasil, fica rapidamente desmotivado com o meio no qual se vê inserido. Todos querem sugar tudo dele.
Uma empresa, mesmo uma pequena ou microempresa, é tratada como se fosse um infindável manancial de infinitos recursos financeiros, do qual todos podem tirar dinheiro, a quantia que for, a hora que bem entenderem. Este é um dos comportamentos que levaram nosso país à atual recessão em que se encontra, embora o “quadro clínico” que define a crise, sem dúvida nenhuma, pode ser inserido em um padrão de complexidades ainda maior e mais abrangente.
O Brasil é um país para empreendedores corajosos. Não é um país para qualquer um empreender. O nível de obstáculos e dificuldades que encontramos aqui é inexistente em países desenvolvidos, onde você pode abrir uma empresa em uma semana, e só têm despesas depois que a empresa foi legalmente aberta, e quando começa a gerar lucro e receita. O que não é o caso, aqui no Brasil, onde temos todos os motivos e razões do mundo para não sermos empreendedores.
Aqui, os gastos já são abusivos para se abrir uma empresa, e muito antes de obter resultados financeiros satisfatórios, o pobre empreendedor já gastou quase tudo o que tinha, e em não raras vezes, vê todo o seu sonho, seu esforço e a sua dedicação serem reduzidas a nada, como areia escorrendo entre os dedos. Do empreendedor, é necessário muita motivação, determinação, força de vontade, visão, antecipação de problemas, perseverança, conhecimento, e, acima de tudo planejamento, planejamento, planejamento, planejamento e mais planejamento.
Não obstante, deve ser um planejamento objetivo e estratégico. Não deve ser algo demasiado detalhado, a ponto de tirá-lo do foco, e roubar o seu tempo – ao menos não de forma excessiva – impedindo-o de realizar a sua principal função, que é trabalhar, atender clientes, e gerar lucro para a empresa.
Mas é muito importante entender, e ter plena consciência de que não é nada fácil empreender em um país onde todos são contra você, e nunca por você. Na primeira oportunidade que tiver, o governo, infelizmente, vai lhe puxar o tapete. E não espere nada além de arrogância, letargia e sonolência dos dirigentes públicos.
Falatórios lindos, repletos de palavras meigas e gentis, são a especialidade dessa gente, avessa à ação, aos resultados e a praticidade funcional do mercado. O funcionalismo público é composto por pessoas que, se trabalhassem no setor privado, seriam demitidas no primeiro dia de trabalho.
O funcionalismo público é composto por pessoas que, se trabalhassem no setor privado, seriam demitidas no primeiro dia de trabalho.
Não espere nada dessa gente. Espere tudo de você mesmo. Ser empreendedor no Brasil requer um grau de intransigência, insanidade, esforço, audácia, inteligência e dinamismo que não veremos em profissionais de outras ocupações, para enfrentar uma série de obstáculos que, com o mesmo grau de divergências, peculiaridades, sofreguidão e obsoletismo, não encontraremos em nenhum outro lugar do mundo.
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Artigo de Wagner Hertzog