Acompanhe a trajetória de como nerds tornaram-se uma força poderosa para a liberdade
A comunidade hacker tem hábitos, vontades e comportamento especialmente peculiares. Resumindo, são pessoas sérias e comprometidas com suas ideias.
Mas, se a comunidade de hackers gosta de exibir o lado volúvel da sociedade, ela também tem uma rica história de ativismo político – ou hacktivismo – que passou a ser definido na época do WikiLeaks.
Se há uma coisa que une hacktivistas de várias gerações é a dedicação à ideia de que a informação na internet deve ser livre – um princípio que não raramente colocam essas pessoas em desacordo com as corporações e governos de todo o mundo.
Veja como nasceu o movimento hacktivista, seu impacto nos dias de hoje e, principalmente o seu papel em nos colocar a pulga atrás da orelha.
1950 a 1980
A mola propulsora da cultura hacker iniciou-se no MIT (Massachusetts Institute of Technology) em que o termo foi cunhado por membros do Tech Model Railroad Club quando eles brincavam com circuitos.
A ideia original de hacks eram as brincadeiras inofensivas praticadas pelos alunos no laboratório no início do conceito de inteligência artificial.
Entre as pessoas que se denominam hackers utilizando a tecnologia para hackear o sistema foram Steve Woznik e Steve Jobs, que inventaram um dispositivo que permitia fazer chamadas à longa distância gratuitamente.
Outubro de 1989
Os computadores da NASA e do Departamento de Energia dos EUA foi invadido por um worm anti-nuclear denominado WANK, o que altera a tela de login para uma tela com manifestações anti-nucleares.
O malware, que se acredita ter sido criado na Austrália é a segundo maior caso de invasão e infecção na história, mas o primeiro com o objetivo estritamente político.
Novembro de 1994
Um grupo ativista composto principalmente por britânicos e conhecidos como Zippies lança um e-mail bomba em sites do governo britânico para protestar por justiça pela John Major’s Criminal e a Lei de Ordem Pública.
O ataque, conhecido como “intervenção no Reino Unido”, derrubou, durante mais de uma semana, vários sites do governo.
É o primeiro uso conhecido do DDoS – protocolo que derruba seu alvo através da sobrecarga de pedidos de comunicação – para fins políticos.
1996
Omega, um mebro da organização texana Cult of the Dead Cow (CDC), cunhou a palavra hacktivismo em um e-mail.
O termo apropriadamente caracteriza o ethos político cada vez mais forte no grupos hackers.
Fundada em 1984 com a meta lunática da dominação global através da saturação de mínima, CDC era, em meados da década de 90 uma organização explicitamente política, que utilizava a tecnologia para promover os direitos humanos e proteger o livre fluxo de informações.
Nos anos seguintes, os membros do CDC uniram-se com um grupo de dissidentes que se autodenominam Hong Kong Blondes para invadir redes de computadores de agências governamentais chineses e empresas com históricos de direitos humanos na China.
Julho de 2001
Hacktivismo, um ramo do CDC criou um código de conduta para a desobediência civil online que atrai sobre a Declaração Universal das Nações Unidas pelo Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
Essa declaração do hacktivismo afirma o direito à liberdade de opinião e de expressão e declara a intenção da comunidade hacker para desenvolver tecnologias para desafiar a censura patrocinada pela internet.
2003
Christopher Poole cria o 4chan.org. O site acumula atenção principalmente pela quantidade de memes felinos humorísticos (os LOLcats) e os Rickrolls.
Mas, com o tempo ele atrai um exército global do hacktivismo, muitos politizados que trocam dicas e, eventuais códigos e programas.
O que começa como uma série de brincadeiras realizadas por diversão para passar o tempo evolui gradualmente para a ciberguerra sistematizada ou, como alguns hackers mesmo definem, uma “ultra-coordinated motherfuckery”. O Anonymous nasce aqui.
Abril de 2007
A Estônia remove um memorial de guerra soviético em sua capital, provocando uma série de cyberhits – principalmente de ataques DDoS – que originaram nos servidores russos.
O responsável pelo ataque, o grupo juvenil pró-Kremlin Nashi reivindicou a responsabilidade dos ataques, embora eles negaram ter cumprido ordens do governo russo.
Sendo um ataque patrocinado pelo governo russo ou não, o ataque à Estônia é um dos maiores ataques DDoS da história.
Janeiro de 2008
O grupo Anonymous lança no YouTube vídeo anunciando o Project Chanology, uma campanha deliberada para destruir a igreja da cientologia, devido às suas campanhas de desinformação e repressão à dissidência.
“Nós somos Anonymous. Nós somos uma legião. Nós não perdoamos. Nós não esquecemos. Esperem por nós”, o grupo declara em tom ameaçador.
Menos de um mês depois os Anonymous realizam seu primeiro protesto físico simultaneamente em vários locais ao redor do mundo, com muitos manifestantes vestindo as máscaras de Guy Fawkes, que mais tarde se tornaria o símbolo icônico do movimento.
Novembro de 2010
O ditador da Tunísia, Zine el-Abidine Ben Ali bloqueia o acesso do WikiLeaks aos telegramas do Departamento de Estado dos EUA.
Em resposta, o Anonymous lançaram a hashtag #OpTunisia, atacando sites do governo e derrubando a bolsa de valores da Tunísia.
Como ato de repúdio, o grupo lança, nos meses seguintes, uma série de ataques para ajudar os ativistas pró-democratas – a maior incursão do Anonymous na política mundial.
Dezembro de 2010
O Anonymous lança a operação Avange Assange depois que a MasterCads e a Visa bloquearam os pagamentos para o site do WikiLeaks.
Eles derrubaram os sites dos cartões de crédito e o tráfego do PayPal usando um aplicativo Low Orbit Ion, que direcionava enormes quantidades de tráfegos para sites específicos.
Dezembro de 2011
AntiSec, uma ramificação do Anonymous que tem uma missão específica de segurança cibernética, hackeou uma empresa de inteligência Stratfor, derrubando seu website e roubando 200GB de informação, principalmente e-mails.
É a maior publicação de informações privadas online realizada pelo Anonymous até essa data.
Janeiro de 2012
Um grupo de hacktivistas pró-palestinos que se autodenomina Nightmare derruba os sites da Bolsa de Valores de Tel Aviv e companhias aéreas em El Al.
Em um post em que assumem o ataque, o grupo diz que está se unindo aos hackers da Arábia oxOmar, que lançaram anteriormente dezenas de milhares de cartões de crédito israelense na internet, em um movimento de hackers islâmicos de Israel.
14 de fevereiro de 2012
No aniversário de 1 ano da dispersão das forças armadas na capital do Bahrein, os Anonymous realizaram uma série de ataques contra o governo do Bahrein e seus aliados.
O reino se defendeu, em fevereiro de 2013, proibindo a importação de máscaras de Guy Fawkes para o seu território.
29 de fevereiro de 2012
A Interpol prende 25 suspeitos de hackers do grupo Anonymous após uma operação secreta do FBI que revelou um líder do Anonymous, Hector Monsegur, conhecido como Sabu.
As informações que ele forneceu levaram a uma onda de prisões hacktivistas, que deu ao Anonymous um grande golpe.
Março de 2012
Frustrado com a forma como lidou com o despejo de dados Stratfor – que foi um fracasso na mídia, o Anonymous lança o seu próprio WikiLeaks, Par:Anoia (Potentially Alarming Research: Anonymous Intelligence Agency).
O site conta com dados furtados fornecidos pela comunidade e publica tudo que recebe.
Abril de 2012
O Anonymous volta sua atenção para a China, derrubando uma série de sites do governo e das empresas locais e marcando-os com a mensagem: “Querido governo chinês, você não é infalível; hoje seus sites são hackeados, amanhã o seu regine irá cair”.
Outubro de 2012
O WikiLeaks colocou milhões de documentos atrás de um plano pago, o que levou a uma censura viciosa da liberdade no subterrâneo da web.
As principais contas do Anonymous no Twitter publicaram: “@wikileaks: morram queimados”. A ruptura do WikiLeaks com os Anonymous está completa.
Janeiro de 2013
O garoto prodígio da computação e ativista da internet Aaron Swartz se enforca em seu apartamento em Nova Iorque após os promotores indiciá-lo por invadir a biblioteca júnior do JSTOR, para liberar milhões de artigos acadêmicos sem precisar pagar por eles.
Poucas semanas após a morte de Swartz, os Anonymous derrubaram o site da agência governamental responsável pelas políticas de sentença dos tribunais federais.
É preciso abrir a cabeça para o que está acontecendo no mundo
Não se trata de ser um hacktivista, um manifestante ou invadir sistemas e fazer ruir dados e informações.
Trata-se de acordarmos para a civilidade. De não aceitarmos a verdade incontestável que é subliminarmente ancorada nas coisas e, questionarmos os rumos do mundo, com informações falsas vendidas como verdades.
Será que os vilões estão realmente errados, ou é a mídia que nos vende assim?
Será que os mocinhos são realmente os mocinhos, coitados e vítimas?
Na minissérie “Superman: Entre a Foice e o Martelo”, ao invés do foguete do Superman aterrissar nos Estados Unidos, ele aterrissa na Ucrânia, na década de 1950.
Como seria o homem de aço se ele tivesse nascido do outro lado, com outra visão, com outra mentalidade e cultura? Como seria o mundo se o Superman fosse soviético?
Só temos a nossa opinião porque julgamos a verdade e a mentira conforme a profundidade do conhecimento e das informações que temos acesso.
Mas, e se estivéssemos do outro lado?
Se o papel do empreendedor é questionar verdades absolutas, que comece pelas verdades que entram pelas nossas casas nos vendendo um modo de vida totalmente contraditório.
Questione tudo. Principalmente as notícias sobre o que é certo e o que errado…
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Este artigo foi inspirado pelo, “Hacktivism: A Short Story”, do Foreign Policy.